The New York Times
As provações e agruras vividas por Homem-Aranha, Hulk, Homem de Ferro, Thor, os X-Men e outros super-heróis da Marvel são conhecidas em todo o mundo graças a HQs e filmes. Não são igualmente conhecidos os sucessos e as dificuldades do autor, publisher e showman Stan Lee, que, ao lado dos artistas gráficos Jack Kirby e Steve Ditko, foi fundamental para dar vida a tantos personagens da Marvel.
O documentário “Stan Lee”, do diretor David Gelb, estreia neste sábado, dia 10 de junho, no Festival Tribeca, em Nova York, e visa mudar essa situação. O filme, que estará disponível na Disney+ a partir de 16 de junho, emprega gravações de áudio e imagens filmadas inéditas até agora e entrevistas novas e de arquivo para contar a história de Stan Lee. Será um olhar novo sobre Lee, que foi presença constante na vida de seus fãs graças aos seus escritos, seu trabalho de voz, participações na TV e pontas em filmes da Marvel. Veja aqui algumas participações notáveis.
Pontas em filmes
O lançamento de “Homem de Ferro” em 2008 marcou o início do que hoje é conhecido como o Universo Cinematográfico Marvel. Também deslanchou uma série de participações especiais de Stan Lee em filmes. Em “Homem de Ferro”, ele está numa festa e é visto por Tony Stark (Robert Downey Jr.), que o confunde com Hugh Hefner.
Nem todas as suas participações especiais foram de tom irônico. Uma das mais sinceras é encontrada na abertura de “Capitã Marvel“, em 2019, que aconteceu após a morte de Lee, em 2018. Quando o logotipo “Marvel Studios” entra em foco, vislumbres rápidos de imagens e diálogos de gibis dão lugar a clipes de Stan Lee, ao som de música comovente. Quando o logotipo vai desaparecendo, restam apenas as palavras “Obrigado, Stan”. Mais tarde no filme ele é visto numa ponta mais tradicional, filmada antes de sua morte, quando Carol Danvers (Brie Larson) o encontra em um trem lendo um roteiro de “Barrados no Shopping”.
Participações de voz
A voz de Lee e a palavra que ele costumava repetir com frequência, “excelsior!” (excelente), eram reconfortantes para os fãs em muitos lugares. Além de Lee ter narrado vários videogames do Homem-Aranha, os jogadores podiam usar seu nome grafado de trás para diante, “Eel Nats”, para destravar níveis dos games.
Em 1975, Stan Lee narrou a série radiofônica “Quarteto Fantástico”. Quem fazia a voz de Tocha Humana era Bill Murray, que contou a Jimmy Kimmel no ano passado que só se lembrava do grito de guerra do personagem, “Flame On!” (algo como “lá vêm chamas!”).
No episódio final de “Spider-Man: The Animated Series” (1994-98), o Homem-Aranha, durante uma aventura no multiverso, visita nosso mundo. Ele conhece Stan Lee e o leva para passear em teias de aranha pela cidade. Quando a misteriosa Madame Web chega para levar o herói para casa, Lee pergunta: “Quem é essa mulher exótica?”. A voz dela dava uma pista: era a de Joan Lee, a esposa de Stan, que morreu em 2017.
Concorrência distinta
Stan Lee e a Marvel estão totalmente interligados, mas nem por isso ele deixou de trabalhar com a DC Comics, rival da Marvel na indústria dos super-heróis. A partir de 2001-2002, a DC lançou uma série de histórias sob o título “Just Imagine” escritas por Lee, em que ele reinterpretou Superman, Batman, Mulher Maravilha e outros heróis. No ano passado a empresa lançou histórias novas em homenagem ao centenário do nascimento de Stan Lee.
Uma versão animada de Lee apareceu na animação de 2018 da DC “Os Jovens Titãs em Ação! No Cinema”. Em uma cena, Lee dança, faz poses de ação e diz “ei, todo o mundo, olhem para mim fazendo minha ponta sutil”, ao som de música e com logos “Stan Lee” aparecendo na tela. Ele retorna mais tarde e diz: “Não me importa que seja um filme da DC –adoro pontas!”. Foi um sinal de como ele podia ser modesto: zombando dele mesmo no filme de uma organização rival.
Cartas do editor
Stan Lee escreveu inúmeras histórias, mas os leitores também podiam ler suas palavras diretamente na forma de editoriais nas últimas páginas de muitos gibis da Marvel. As colunas “Stan’s Soapbox”, escritas entre 1967 e 1980, lhe permitiam divagar sobre tudo, desde o processo criativo até problemas sociais. No obituário de Lee na Entertainment Weekly, o escritor Brad Meltzer escreveu: “Ele deu a uma geração inteira princípios pelos quais pautar sua vida. Princípios a emular.” Um dos editoriais de Lee, de 1968, começava dizendo: “Vamos falar sem meias-palavras. O preconceito e o racismo estão entre os males sociais mais mortíferos que assolam o mundo hoje.”
Uma coleção de seus editoriais pode ser obtido da Hero Initiative, entidade beneficente que ajuda criadores de HQs que passam por necessidade.
Como ele veio ao mundo
O Marvel Fumetti Book, publicado em 1983, é uma antologia de HQs que usa fotos de Eliot R. Brown em preto e branco para contar suas histórias. Os leitores puderam curtir visões dos bastidores da equipe editorial da Marvel, cujos membros às vezes eram mostrados representando detalhes das tramas. Em um dos contos, Lee repreende a equipe em tom de brincadeira por coisas ocorridas recentemente, incluindo “Homens de Ferro alcoolizados!” e o corte de cabelo moicano de Tempestade, dos X-Men. “Não sei se estou gostando do que estou vendo”, ele diz. “Vamos parar com isso!”
Ele aparece em foto nas páginas centrais do livro, deitado num sofá com um figurino de Hulk sobreposto a ele. Mas a foto original, que não chegou a ser usada, era mais ousada: era uma foto de Stan Lee nu, coberto apenas por um gibi estrategicamente posicionado.
HQs fora da Marvel
Em 2020, a TidalWave Productions lançou “Tribute: Stan Lee”, uma HQ biográfica de 30 páginas. Ela relata a carreira de Lee antes e depois da Marvel, suas investidas iniciais na animação e televisão e também um pouco da gestão criativa que deu origem ao Quarteto Fantástico e outros super-heróis. O gibi também menciona o conflito entre Lee e Kirby, o artista que criou muitos dos personagens juntamente com Lee e que achou que não recebeu reconhecimento ou dinheiro suficiente por sua participação.
Um dos projetos finais de Lee foi a série em webcomic Backchannel, co-escrita por Tom Akel e desenhada por Andie Tong, sobre um grupo hacktivista. Uma coletânea será lançada em 15 de agosto. Observe com atenção para ver a ponta de Stan Lee no capítulo 9. Ele aparece trabalhando num cinema. A cena é inspirada em um de seus primeiros empregos, como lanterninha.
Tradução de Clara Allain
Fonte: Folha de SP
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