John Corbett fala sobre a volta de Aidan como par romântico de Carrie em ‘And Just Like That…’


The New York Times

Há anos as pessoas param John Corbett na rua, no mercado, em cafés, para lhe jurar fidelidade. “Todo o mundo que eu encontro fala a mesma coisa: ‘Eu era fã de Aidan’.” Ele presume que as pessoas estivessem mentindo. “Elas não querem me magoar. Tomam muito cuidado comigo.”

Em duas temporadas de “Sex and the City” e em pontas mais tarde, incluindo na fantasia árabe “Sex and the City 2”, Corbett, 62 anos, encarnou Aidan Shaw, um fabricante de móveis bonitão e par romântico intermitente de Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker). “Ele era caloroso, masculino e classicamente americano, exatamente como seus móveis”, diz Carrie, falando de Aidan.

Personagem criado para marcar um contraste com Mr. Big (Chris Noth), que sempre relutava em se dar por inteiro, e previsto originalmente para figurar em apenas três episódios, Aidan era sólido e inflexível –outra coisa que tinha em comum com muitos móveis americanos clássicos. Ele não deixava Carrie fumar. Fazia pouco-caso das coisas que interessavam a ela. Quando Carrie o traía, ele a castigava. Controlador, julgador, manipulador –quem quer isso?

Carrie, ao que parece. Isso porque, como os trailers já nos revelaram, Aidan retorna na segunda temporada do revival de “Sex and the City”, “And Just Like That…”, cuja segunda temporada estreou na HBO Max recentemente. E, desta vez, quando as pessoas o procurarem para declarar lealdade a Aidan, Corbett pensa que talvez seja para valer.

“Aqueles fãs que não gostavam de Aidan –e eu sei exatamente por que não gostavam, ele não era o cara certo para ela—, vão se frustrar”, ele disse.

Corbett estava falando ao telefone no final do mês passado, de sua casa numa cidade sonolenta três horas ao norte de Los Angeles. Na realidade, era o telefone de sua mulher, a atriz e modelo Bo Derek, já que o de Corbett não estava funcionando. Um pedido de entrevista por vídeo tinha sido negado.

“Eu não poderia ficar à vontade, porque estaria representando”, ele explicou. “Uma hora ou mais é muito tempo para ficar de barriga encolhida.”

Isso sugere que Corbett, que se tornou ator tarde e mais ou menos por acaso, tem sentimentos ambíguos em relação à sua profissão, apesar de dizer que mantém uma atitude de distanciamento em relação a ela. Conversar com ele é sentir não apenas sua intimidade –com muitos palavrões e a camisa por fora das calças—mas também sua ambivalência profunda em relação à sua vocação, seu ofício e a série que o tornou famoso.

Corbett cresceu em Wheeling, na Virginia Ocidental, com sua mãe. Depois do ensino médio, mudou-se para o sul da Califórnia para estar perto de seu pai, soldador, e foi trabalhar numa siderúrgica. Afastado do trabalho aos 22 anos por conta de uma lesão, ele se matriculou numa faculdade pública, onde se entediou. Mas depois de um mês de aulas, conheceu alguns estudantes no bandejão que o convidaram para assistir a uma aula de improvisação.

“Sempre fui um sujeito que fazia meus amigos darem risada –o palhaço da classe”, ele contou. “Naquele dia, vi 30 outras pessoas exatamente como eu naquela sala.” No mesmo dia ele desistiu dos outros cursos e se matriculou de novo, desta vez para estudar teatro. Ele fez esgrima, fez balé. Diz que nunca mais voltou a sentir a mesma emoção, a mesma liberdade. “É um pouco como drogas. Você está curtindo aquela primeira viagem.”

Sua transição para ser ator profissional foi mais difícil. Corbett posou para fotos 3×4, redigiu um currículo repleto de créditos falsos e se sustentou como cabeleireiro enquanto era rejeitado em quase todos os testes para os quais era chamado, com as mãos tremendo e os roteiros, idem. Ele tinha duas metas: queria estar na televisão e queria ser famoso.

Em 1990, ele foi chamado para encarnar um DJ de rádio do Alasca na comédia da CBS “Northern Exposure”. A série teve cinco temporadas e 110 episódios. Ela não pagava muito. Mas deu a Corbett o primeiro gostinho da celebridade e lhe mostrou que os fãs gostavam dele –não por qualquer habilidade cômica que ele pudesse ter, mas por sua voz grave, sorriso calmo e corpão de 1,93 metro.

“Eu era o bonitão, e as mulheres se derretiam”, ele comentou. “Mas acho que jamais alguém se aproximou para me dizer: ‘Ei, acho você um bom ator’.”

Ele tinha um tipo –bonito e sensível, não exatamente um “himbo” (um homem bonito mas frívolo). E, nos anos que se seguiram a “Northern Exposure”, ele não combateu essa visão. “Você tem que ir onde o dinheiro está, certo?” E o dinheiro, na época, chegava para ele principalmente de filmes feitos para a televisão que ele descreveu como “não grande coisa”.

Mas Corbett tinha alguns padrões. E, em 2000, quando primeiro lhe ofereceram um papel na terceira temporada de “Sex and the City”, ele o recusou. Via-se como mais do que apenas um convidado na série. Mas o showrunner Michael Patrick King, hoje o criador de “And Just Like That…”, tentou fazê-lo mudar de opinião, intuindo que Corbett poderia oferecer o afeto e calor humano que faltavam em Mr. Big.

“Há poucos atores com sex appeal forte e descontraído”, disse King em entrevista.

Como Corbett não tinha HBO, mandavam os episódios para ele em VHS. Ele os assistia e continuava a dizer não (entre outras razões, o roteiro exigia que ele ficasse nu, “e minha mãezinha assistia a todos meus trabalhos”). Mas ele acabou concordando em encontrar Sarah Jessica Parker e Michael Patrick King –principalmente porque receberia uma passagem gratuita para Nova York. Eles se reuniram no apartamento de King, no West Village.

“Me apaixonei pelos dois”, ele conta. “Depois de uma hora, senti vontade de passar mais tempo com eles.”

Parker também se lembra de ter sentido algo em comum com Corbett imediatamente. “Abri a porta para ele”, ela contou em entrevista recente. “Ele me fez uma espécie de reverência antiquada, galante. Não me recordo do que conversamos –apenas que foi muito agradável e feliz.”

Quando Corbett chegou ao set de filmagens, Parker percebeu que a câmera amplificava seu charme. “Era como se ele envolvesse a câmera com os braços e a fundisse com seu corpo. Ele a absorvia.”

Três episódios viraram quatro. Depois cinco. Depois mais. Quando Carrie e Aidan romperam, no final da terceira temporada, os fãs da HBO pediram encarecidamente que Corbett fosse chamado de volta. E ele foi.

Corbett já tinha o que queria: estava na TV. Estava famoso. Mas a fama, mais intensa do que o que ele havia vivido com “Northern Exposure”, mudou sua vida, “e não da maneira que eu queria, profissionalmente falando”, ele comentou.

Corbett passou a ser tão fortemente associado ao papel de Aidan que tinha dificuldade em ser visto de qualquer outra maneira. Ele foi rejeitado para outros papéis que quis fazer. Seu trabalho em “Sex and the City” e nos filmes “Casamento Grego” afirmou e limitou seu tipo: o namorado simpático. Que depois virou o marido simpático. Recentemente, em projetos como os filmes “Para Todos os Garotos que Já Amei” e no spinoff recente “Com Carinho, Kitty”, ele encantou uma nova geração de espectadores no papel do paizão simpático.

“Já me conformei com a ideia. É isso daqui que eu faço”, ele disse. “Quando o telefone toca e me parece que o dinheiro é bom, o lugar é bom e o momento é bom, eu vou lá e viro esse sujeito que essas pessoas querem ver.”

Colegas de Corbett tendem a confundi-lo parcialmente com seus personagens quando falam a seu respeito. “Ele é um malandro superdivertido”, disse Nia Vardalos, roteirista e protagonista dos filmes “Casamento Grego”, uma descrição que parece aplicar-se igualmente ao ator e ao papel.

“Ele é um cachorrinho grandão. Como você pode não adorar um cachorrinho?”, comentou Toni Collette, sua co-estrela em “O Mundo de Tara”.

Para Corbett a separação é igualmente difícil de traçar, especialmente quando se trata de Aidan. “É difícil porque quando eles dizem ‘ação!’, não muda nada. Ainda estou vivendo a mesma vida.”

Em “Sex and the City”, essa vida, apesar da simpatia de Corbett, tinha seus momentos sombrios. Os fãs podiam enxergar Aidan como descontraído e carinhoso, mas o personagem também era julgador e raivoso. Também nesse ponto a separação não está clara para Corbett. “Eu me irrito. Algumas vezes por dia tenho vontade de jogar uma cadeira na janela de vidro.”

Então por que trazê-lo de volta? Num primeiro momento, King não queria. Como ele pretendia fazer Mr. Big morrer na primeira temporada de “And Just Like That…”, achou que não poderia chamar o outro grande par romântico de Carrie de volta imediatamente.

Mas Corbett queria voltar. “Quando apareciam fotos do pessoal filmando na rua, eu sentia um pouco de ciúmes porque não me tinham chamado para voltar e fazer uma ponta.”

Com a segunda temporada, já se passara tempo suficiente. King chamou Corbett, que em pouco tempo estava de volta à Silvercup Studios, onde o “Sex and the City” original foi filmado. Ele chegou a levar algumas das mesmas roupas.

Mas há diferenças, ao que consta. A Max só compartilhou alguns minutos com Aidan na tela, mas Corbett e Parker disseram que o relacionamento de seus personagens se aprofundou e ficou mais amoroso. Aidan já não fica discutindo com Carrie da mesma maneira, disse Corbett. Ele não a controla mais. “Agora ele a ouve de verdade”, ele disse.

Em sua entrevista telefônica separada, Sarah Jessica Parker concordou. “Não é uma coisa febril”, ela falou a respeito do romance entre os personagens. “Há muito tesão entre eles, mas não aquele nervosismo da parte dele.”

Então os fãs de Aidan estarão justificados desta vez em seu apoio? King respondeu nos seguintes termos: “Eu não trouxe Aidan de volta para fracassar”.

Corbett parece querer uma vitória para Aidan, mas sem ansiedade. Aidan lhe deu a carreira que ele tem, embora ela ocorra dentro de parâmetros mais estreitos do que a carreira que ele imaginou no passado. Mas ele já fez as pazes com isso. É provável que nunca chegue a ser visto como um ator sério, mas existem coisas piores do que ser visto como um galã americano clássico.

“Este trabalho me deu uma vida fantástica e me exigiu muito pouco de volta em troca da grande mala de dinheiro que recebi”, ele disse, falando de sua carreira. E acrescentou, se bem que isso não fosse inteiramente verdade: “Recebi tudo que eu queria da vida.”

Tradução de Clara Allain

Fonte: Folha de SP

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *