Nany People não para. Depois de gravar participações na novela “Fuzuê”, próxima atração da faixa das 19h da Globo, e na nova série de Rodrigo Sant’anna para a Netflix, “Ponto Final”, ela cumpre uma extensa agenda de shows em todo o Brasil, alternando os humorísticos “Tsunany” e “Nany É Pop” com o musical “Sob Medida”, em que interpreta canções de Fafá de Belém.
Em agosto, finalmente chega aos cinemas “Vai Ter Troco”, comédia que ela rodou em 2018 ao lado de Miá Mello e Marcos Veras. Em setembro, Nany embarca para uma turnê pela Europa, com apresentações em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Dublim e Paris. E, no meio dessa agenda cheíssima, ela ainda encontrou tempo para conversar com o F5 sobre seu papel no filme “Um Dia Cinco Estrelas”, que entrou em cartaz na quinta-feira passada (6).
“Foi o maior desafio da minha carreia”, conta ela, em entrevista por videoconferência. “Eu já encarnei diversas mulheres cisgênero no cinema e na TV, mas nunca alguém como a dona Nilda”, diz, referindo-se à mãe do protagonista do longa, vivido por Estevam Nabote. Trata-se de uma senhora de meia-idade de aparência muito simples, da classe média de Porto Alegre. Uma ex-bailarina que largou a carreira para cuidar do marido e do filho, e que agora sonha apenas em passar um aniversário na Argentina dançando tango.
“Tive que me despir da minha vaidade”, prossegue Nany. “O timing da dona Nilda é outro, a maneira de andar é outra, o gestual é outro. Achei que eu seria escalada para fazer a melhor amiga dela, que é mais atirada”, diz —mas esse papel acabou ficando com Luciene Adami. Nany credita a Veronica Stumpf, executiva da produtora e distribuidora Paris Filmes, o convite para encarnar esta mulher tão distante de seu universo. “Ela apostou em mim!”
“Eu me inspirei na Ismênia, uma amiga da minha mãe, para compor a personagem. Mamãe era muito vaidosa, até dormia de batom. Ela dizia que ‘uma mulher sem batom é uma mulher sem destino’. E a Ismênia queria ser como a minha mãe, mas não conseguia.”
Pedro Paulo, o filho de dona Nilda, é um sujeito sem profissão definida. “Um cara mal formatado, que faz ‘homices’”, explica Nany. Dono de um Opala vintage que ele chama de Mozão, Pedro Paulo se vê obrigado a trabalhar como motorista de aplicativo, depois que uma emergência traga todas as economias da família. E, logo em seu primeiro dia no novo serviço, enfrenta dezenas de perrengues. Enquanto isto, dona Nilda vai com a amiga a um spa, pela primeira vez, e estranha muito os sofisticados tratamentos que lhe são oferecidos.
“Um Dia Cinco Estrelas” é o terceiro filme que Nany roda com o diretor carioca Hsu Chien. “Ele é o meu Almodóvar, e eu sou a Carmen Maura dele”, ri. “O Hsu sabe o que quer de cada personagem, e sabe como tirar isso dos atores.”
Nany também está entusiasmada com “Sob Medida”, o show em que homenageia uma de suas cinco musas, Fafá de Belém (as outras quatro são Lilia Cabral, Hebe Camargo, a travesti Rogéria e sua própria mãe).
“Eu sou fã da Fafá desde pequena. Tem sempre uma música dela que norteia a minha vida. Eu ouço Fafá diariamente, continuamente. Quando eu a conheci, em 2016, ficamos amigas na hora. Depois ela foi jurada do Popstar, na temporada em que eu participei da competição. Agora ela me ajudou a escolher as músicas do repertório do show. Tem algumas que ela nem se lembrava de ter gravado!”
Nany também se prepara para escrever, junto com Flávio Queiroz, a segunda parte de sua autobiografia. A primeira, “Ser Mulher Não É para Qualquer Um”, foi lançada em 2015. “A segunda vai se chamar ‘A Saga Continua’”, adianta.
Com tantos projetos simultâneos, Nany People tem plena consciência de sua importância para o showbiz brasileiro. Ela segue a trilha aberta por Rogéria, que interpretou algumas mulheres cis ao longo da carreira. Esse tipo de personagem tem sido uma constante na carreira de Nany, que admite que o mercado vem melhorando para as atrizes transexuais. Tanto que, em breve, ela talvez deixe de ser chamada de atriz trans, e passe a ser conhecida apenas como uma atriz. Sem outros rótulos.
Fonte: Folha de SP