Os 25 anos de ‘Titanic’, o blockbuster que ainda acreditava no amor – 09/02/2023

E de repente o tempo passou, e “Titanic” acaba de fazer 25 anos. Um dos filmes mais amados de todos os tempos volta ao cinema nesta quinta, em 3D e resolução 4K, que nem existia no final de 1997, quando o filme estreou. Lembro como se fosse hoje as filas que dobravam o quarteirão no Cine Indaiá, em Santos. A fila era só pra conseguir ingresso para mais tarde, ou para o dia seguinte. A gente chegava às 16h para, com sorte, conseguir uma entrada para a sessão das 21h – e passava o dia em função dessa espera.

Não é à toa que o blockbuster de James Cameron foi a maior bilheteria da história do cinema por 12 anos. Muita gente que eu conheço foi pelo menos duas vezes ao cinema para ver uma história que durava 3 horas e 14 minutos – eu mesmo fui três vezes. “Titanic” marcou a última vez em que Hollywood foi realmente gigante, colossal, fundamental nas nossas vidas. E produziu um filme que conquistou gente de diferentes gerações, da avó à neta.

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O romance de Jack (Leonardo DiCaprio) e Rose (Kate Winslet) também foi a última vez que Hollywood mobilizou US$ 200 milhões para contar… uma história de amor. Que a gente viu algum tipo de humanidade transbordando de um blockbuster. Era uma história de amor besta, menina rica se apaixona por artista pobretão, dessas que vemos em qualquer novela? Com certeza. Mas nos conectava a “Titanic” muito mais do que se ele fosse “apenas” um filme-catástrofe. Antes dele, o amor também guiou algumas superproduções. Basta lembrar do primeiro “Superman” (1978), em que o nosso herói acelera em torno da Terra e faz o tempo voltar atrás para salvar sua amada Lois Lane, que tinha acabado de morrer, com homens durões e mocinhas sensíveis chorando juntos no cinema.

Hoje orçamentos maiores são gastos nos filmes da Marvel e da DC, repletos de ação, com heróis cínicos dando falas espertinhas antes de destruir o vilão ou salvar o mundo inteiro do apocalipse. Eles falam à nossa adrenalina mas – perdoe a cafonice – não falam ao coração. O próprio James Cameron foi depois fazer “Avatar”, com um bilhão de efeitos especiais e nenhuma alma.

Sim, “Titanic” era acima de tudo uma história de amor, mas num dado momento continha algo que não se vê mais no cinema americano: sexo. Aquela cena da transa de Jack e Rose dentro da carruagem, o vapor dos corpos subindo, uma mão que se fixa ao vidro numa levíssima alusão ao orgasmo, certamente seria cortada por qualquer produtor em 2023, mesmo não contendo nada de explícito. Ficamos mais caretas, sem dúvida.

A estreia do filme foi tão marcante que sua influência rapidamente se espalhou por todos os lugares. “My Heart Will Go On”, a música xarope de Céline Dion que embalava o casalzinho, tocou por mais de um ano nas rádios (muito antes do Spotify). Num clipe da Britney Spears, o rapaz vai até o fundo do oceano para resgatar o colarzinho que ela perdeu no naufrágio, assim como a velha Rose do início do filme. A beleza de Leonardo DiCaprio, que tinha 26 anos ao rodar o filme, abalou até a nossa MPB. Numa entrevista a um jornal francês, Caetano Veloso disse que devoraria o loirinho de olhos azuis, e isso foi parar num sucesso do Djavan (“Te Devoro”).

É curioso notar que, até hoje, os fãs de “Titanic” pegam no pé da sequência que crava de vez o filme no nosso coração: a morte de Jack. Durante longos e desesperados minutos, ele mantém Rose flutuando numa tábua de madeira para que ela não congele e não se afogue. Até que a hipotermia fala mais alto e ele afunda, desaparecendo no fundo do mar. Chorei muito quando vi essa cena pela primeira vez, pela força da imagem, como se Jack partisse em direção a um outro reino e deixasse sua amada na eterna agonia do mundo dos vivos.

Mas os fãs não se conformam: por que Rose não deu um espacinho pra Jack na tábua, se o amava tanto? Quando o filme completou 20 anos, Cameron respondeu aos fãs dizendo que ele mesmo subiu na tábua e descobriu que ela não suportaria o peso de duas pessoas – no mínimo ela afundaria um pouco na água, o que já seria suficiente para congelar os dois. Como se verdade ou verossimilhança tivessem alguma coisa a ver com o que a gente sente ou sonha numa sala de cinema.

Por tudo isso, gostaria muito de ver “Titanic” fazendo sucesso na tela grande de novo. E adoraria saber o que um jovem de vinte e poucos anos, que estava apenas nascendo quando o filme estreou, vai achar dele hoje. Tomara que ainda haja lugar no coração dele para amores cafonas, heróis que não voam e navios que afundam.



Fonte: UOL Cinema

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