Indicado ao Oscar em 2016 por O Menino e o Mundo, Alê Abreu volta aos cinemas nacionais com Perlimps, uma história sobre amizade e preservação da natureza. Mas, ao escalar os atores mirins Lorenzo Tarantelli e Giulia Benite para viver os protagonistas Claé e Gruô, respectivamente, o diretor acabou criando uma dor de cabeça para si mesmo –o processo de fazer uma animação leva tanto tempo que as vozes dos dois se transformaram no decorrer da produção.
Giulia –mais conhecida por viver a Mônica em Turma da Mônica – Laços (2019) e sua continuação, Lições (2021)– e Lorenzo (dublador do Jovem Sheldon no Brasil), entraram no estúdio pela primeira vez em 2018, quando tinham apenas dez anos. Atualmente, ambos estão com 14. E, como todo mundo que já passou pela adolescência sabe, a puberdade chega acompanhada de mudanças desconfortáveis na voz.
“O que aconteceu? Eles tiveram esse primeiro trabalho juntos, em 2018, antes de fazermos todo o resto. Nós desenvolvemos, criamos os personagens, construímos juntos, gravamos [as vozes] do filme todo. Mas Perlimps passou três anos em produção, e nesse período nós fomos entendendo melhor a história. E aí surgiram coisas que tiveram de ser ajustadas no final, algo normal em qualquer filme. Só que aí eu volto e encontro o Claé pré-adolescente!”, lembra Alê Abreu, aos risos, em conversa exclusiva com a Tangerina.
“Acho que a maior dificuldade que nós tivemos foi que eu e a Giulia crescemos nesse tempo todo. E aí veio a mudança vocal, principalmente a minha. A da Giulia nem tanto”, completa Tarantelli. “Eu tentei complicar mais a vida do Alê, mas não consegui (risos)”, brinca Giulia. “Mas o Lorenzo…”
“O Lorenzo teve que fazer vários exercícios vocais para chegar na voz original, né? E conseguiu. Mas não foi nada fácil para ele”, diz Abreu. “Foi difícil porque eu comecei com a vozinha que eu tenho no filme, e agora ela está um pouco mais grossa”, concorda o responsável por trazer Claé à vida. “Eu precisava ouvir a gravação original para ter uma noção de como era a minha voz antes, aí tentava chegar o mais próximo possível. No fim, deu certo.”
Perlimps conta a história da raposa Claé e do urso Bruô, agentes secretos dos reinos do Sol e da Lua, respectivamente. Após se encontrarem por acaso e baterem de frente por terem visões bem diferentes do mundo, os dois precisam unir forças em uma missão contra gigantes que ameaçam a existência da floresta onde vivem.
Os vilões, seres metálicos, frios e aparentemente sem coração, preparam uma arma chamada de Grande Onda, com poder de destruição imensurável. A única maneira de vencê-los é encontrando e reunindo os Perlimps, criaturas mágicas e misteriosas que podem ser encontradas apenas com um detector especial pelo qual Claé e Bruô lutam bastante.
A produtora Laís Bodanzky, Lorenzo Tarantelli, o diretor Alê Abreu e Giulia Benite na pré-estreia de Perlimps
Marcelo Sá Barretto/AgNews
Com uma história que vai atrair tanto crianças quanto adultos, o longa pode ser encarado como uma metáfora do conflito entre Israel e Palestina ou do muro que Donald Trump queria construir para separar os Estados Unidos do México, um despertar sobre a importância da preservação da natureza ou uma história lúdica que mostra a importância de superar as diferenças e buscar ligações verdadeiras. Todas são corretas, na opinião dos envolvidos.
“Acho muito interessante que cada pessoa que assiste ao filme pode ter uma visão diferente, sabe? Até porque é um filme que tem muitas mensagens, e cada um as recebe de uma maneira. Eu pude captar uma mensagem muito política, sobre natureza, sobre guerras, sobre a visão de crianças que precisaram ignorar suas diferenças por um bem maior, pela sociedade”, lista Giulia Benite à reportagem.
“Eu também vejo muito a questão da desigualdade social. Eles vêm de dois universos totalmente diferentes. O Claé pode ter o que quiser, é cheio dos equipamentos, todo tecnológico… E a Bruô não, ela tem um lado mais familiar, das coisas mais antigas. E eles conseguem unir essas duas coisas e achar um caminho muito legal para concluir sua missão. E os Perlimps também trazem uma esperança, que acende essa chama entre eles”, aponta Tarantelli.
A maturidade dos astros mirins é algo que surpreende até Alê Abreu. “Eles são incríveis. Se você vê os dois em cena, fica impressionado. E não foi uma gravação que eles seguraram só na voz, era algo de corpo inteiro! No começo, quando decidimos trabalhar com atores de 10 anos, eu fiquei morrendo de medo, porque minha experiência anterior a O Menino e o Mundo tinha sido muito difícil. Mas agora mudou tudo para mim, fico muito feliz quando vejo o que os dois fizeram”, admite o cineasta.
Encontrar as vozes ideais de Claé e Bruô era uma parte essencial para que Perlimps saísse do papel –não por acaso, Abreu conta que testou mais de 100 crianças. “Talvez umas 200, foram muitos testes mesmo. Mas esse era o desafio, nós precisávamos ter dois talentos de verdade. Porque o filme nasce do diálogo entre eles, é muito raro ter uma animação com dois personagens em uma floresta e que fica a maior parte do tempo com os dois conversando, sem aparecer nada. Mas quando eu vi os dois gravando juntos, sabia que nós tínhamos encontrado ouro”, valoriza.
Perlimps já está em cartaz nos cinemas. Confira o trailer da animação brasileira:
Perlimps
Confira o trailer da animação nacional
Fonte: UOL Cinema
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