Maior série francesa da história da Netflix, Lupin ultrapassou a barreira da língua e conquistou fãs em todo o mundo. Hit da plataforma em 2021, a atração apresentou ao público uma versão moderna de Arsène Lupin, icônico personagem da literatura criado por Maurice Leblanc (1864-1941).
Idealizada por George Kay e desenvolvida por François Uzan, a versão de Lupin da Netflix tem grandes diferenças em comparação à obra original. Enquanto o personagem nos livros é um homem branco que vive entre o fim do século 19 e o início do 20, o protagonista da série é vivido pelo ator negro Omar Sy (Intocáveis) em uma trama situada nos dias atuais.
Embora essas mudanças possam não parecer tão grandes para alguns à primeira vista, foi um desafio muito grande para os roteiristas trazer uma nova roupagem para o universo de Lupin liderado por Omar Sy. Afinal, ser um homem negro na França continua sendo difícil mais de um século depois da primeira aparição do personagem.
Em entrevista exclusiva à Tangerina, François Uzan detalha os desafios de adaptar as histórias de Arsène Lupin para um público moderno. Segundo ele, as principais diferenças da série da Netflix para as obras literárias eram nítidas desde o início pelo fato de George Kay ser um roteirista britânico e com um estilo de escrita muito diferente dos franceses.
“A primeira vez que eu tive contato com a série foi quando a Netflix me enviou o piloto escrito por George Kay. Ele é um roteirista britânico e, desde o começo, era muito diferente. As cenas são um pouco mais visuais. É a maneira como eles escrevem e como descrevem cenas e personagens. Eu sabia que seria uma história incrível e, desde o começo, eu sabia que teríamos Omar [Sy]. Seu carisma é incrível”, explica Uzan.
“Eu sabia que ele traria algo totalmente diferente para a mesa ao se envolver com esse personagem. O original é branco. Ele está entre os 30 e 40 anos e se dá bem com todo mundo. Então, agora, o superpoder de ser aquele grande ladrão seria dado a alguém extremamente diferente daquele cara branco comum. Agora é um homem francês negro, então eu pensei que isso era ótimo e estava muito engajado com nossa cultura”, completa.
Na visão de Uzan, misturar o universo de Lupin com a atmosfera dos imigrantes franceses e muita ação era uma fórmula quase perfeita. Entretanto, mesmo com uma ótima impressão do projeto, o cocriador nunca esperou o sucesso arrebatador que a série faria além das fronteiras da França.
“Mesmo se você estiver lendo o piloto, você acha ótimo, mas você nunca sabe, nunca pode esperar [o resultado]. Você pode dizer que George escreveu um piloto incrível. E o resto, eu não vou definir como: ‘O resto é história’. Mas a forma como o mundo se envolveu com aquele personagem, não era de se esperar. Nós não imaginávamos isso.”
Omar Sy como Lupin
Divulgação/Netflix
Lupin e a fidelidade à cultura francesa
Muito antes da série da Netflix, Arsène Lupin era um personagem icônico da literatura cuja popularidade também cresceu mundo afora. Para adaptar a obra para o público moderno, contudo, François Uzan viu a necessidade de manter uma característica muito importante: a fidelidade à cultura francesa.
Embora produções de serviços de streaming sejam disponibilizadas em vários países, cada indústria prioriza o seu próprio público na hora de desenvolver um novo projeto. No caso de Lupin não foi diferente, e isso acabou se tornando um dos grandes desafios de Uzan na hora de fazer a adaptação. Ele ainda cita uma produção 100% brasileira para explicar o seu ponto.
“Foi muito desafiador fazer algo que fosse surpreendentemente divertido e tivesse algo a dizer sobre a cultura francesa. Eu acho que as melhores séries da Netflix ou de qualquer outra plataforma são aquelas cujos temas são universais, mas dizem algo muito específico sobre o seu país de origem. Por exemplo, eu amo a série brasileira 3% [2016-2020]. Eu amo Round 6. Suas estruturas são incríveis, mas eles não poderiam ser feitas em outros países”, completa.
Questionado pela reportagem sobre a vindoura terceira temporada de Lupin, Uzan se esquiva de entregar detalhes. No entanto, ele assegura que os fãs podem se preparar para a leva de episódios mais intensa até agora. “[A terceira temporada] é a base do que o personagem Lupin é. Você não sabe quando, onde ou o quê. Mas ele vai voltar, e vocês serão muito surpreendidos”.
Fonte: UOL Cinema