Nova série de Sam Levinson, criador do fenômeno Euphoria, The Idol tem bastidores tão tumultuados que renderiam uma atração à parte. A produção idealizada e estrelada pelo músico The Weeknd teria jogado fora um trabalho avaliado em mais de US$ 70 milhões (R$ 362 milhões) e ainda é acusada de transformar estupros em um fetiche, com a personagem vivida por Lily-Rose Depp implorando para ser abusada pelo protagonista.
Segundo reportagem da revista Rolling Stone norte-americana, os problemas em The Idol já tinham começado muito antes das gravações: a atriz e cineasta Amy Seimetz, contratada para dirigir os seis episódios da produção, teve que iniciar seu trabalho com os roteiros incompletos e sem nenhuma ideia de como a história chegaria ao fim, já que o texto do último capítulo sequer tinha sido esboçado.
Inicialmente, The Idol contaria a história de uma estrela do pop em ascensão, Jocelyn (papel de Lily-Rose Depp), que se envolve com Tedros (vivido por The Weeknd), líder de um culto similar à Cientologia. A ideia da série era escancarar o lado podre da indústria musical, em uma crítica ácida a artistas dispostos a fazer qualquer coisa pela fama.
Porém, depois de entrar em conflito com o próprio The Weeknd, que achou que seu personagem estava sendo ofuscado pela mocinha vivida por Lily-Rose, Amy abandonou a produção em abril do ano passado. Sam Levinson, que tinha acabado de encerrar a segunda temporada de Euphoria, assumiu a direção da série que ele tinha criado. Mas o clima de desorganização piorou –dando à equipe a sensação de um trem desgovernado.
Todo o material rodado por Amy Seimetz foi descartado por Levinson, que também eliminou personagens da série original e criou uma história completamente diferente. De acordo com a reportagem, até aquele momento a produção já tinha estourado bastante o orçamento original, de US$ 54 milhões (R$ 290 milhões). O dinheiro foi jogado no lixo.
Sob nova direção, The Idol foi completamente reformulada. Levinson teria escrito cenas que beiram a pornografia e a tortura, com Jocelyn implorando para ser estuprada por Tedros e se desesperando quando ele negasse a violência sexual. Uma cena em que a personagem colocaria um ovo na própria vagina só não foi rodada porque a produção não encontrou uma maneira crível de fazê-la sem que a atriz precisasse de fato inserir o objeto.
Membros da equipe e do elenco ouvidos pela Rolling Stone disseram que a série se tornou exatamente aquilo que pretendia satirizar, com uma mensagem vazia e ofensiva para o público –tudo regado a muito sexo, pois o novo diretor queria superar todos os limites de Euphoria (que já foi acusada de sexualizar gratuitamente suas atrizes).
As gravações sob o comando de Levinson deveriam durar maio a julho do ano passado, mas se estenderam até setembro –o que aumentou ainda mais o curso da série, dado os nomes expressivos envolvidos na frente e atrás das câmeras. Algumas cenas ainda foram rodadas em outubro. Parte da equipe revelou que o diretor mudava o roteiro constantemente e que parecia não fazer ideia de quais sequências seriam gravadas no dia seguinte –ou até mesmo naquele dia.
Para piorar, nem as pessoas que trabalharam em The Idol sabe como será a série que irá ao ar, já que eles rodavam cenas completamente diferentes e contraditórias ao longo do trabalho, de acordo com a vontade de Levinson. O diretor teria dito que faria o que quisesse e que, se a HBO reclamasse, ele simplesmente não produziria novos episódios de Euphoria –um dos destaques do canal premium nas premiações.
Os trabalhos em The Idol atrasaram tanto que a série sequer tem uma previsão de estreia –a HBO diz apenas que o lançamento ocorrerá ainda neste ano. Inicialmente, a ideia dos executivos do canal premium é que a atração fosse exibida assim que a primeira temporada de House of the Dragon chegasse ao fim –ou seja, no fim de outubro do ano passado. Com tantos problemas, é possível que a “nova Euphoria” só chegue à TV quando o segundo ano do spin-off de Game of Thrones (2011-2019) for exibido.
Procurado pela revista, The Weeknd não quis comentar os problemas na produção. Mas, após a publicação da reportagem, ele tuitou a frase “Rolling Stone, nós magoamos você?” acompanhada de um vídeo com cenas de The Idol. Levinson não se pronunciou sobre o caso. Já Lily-Rose disse que o diretor é o melhor com quem já trabalhou, e a HBO afirmou que a série é “uma das produções mais empolgantes e provocativas já feitas”, que a equipe se esforçou para criar um set seguro e que as mudanças criativas foram feitas para que o resultado fosse melhor para todos.
Fonte: UOL Cinema
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