‘Pânico 6’ abraça o feminismo ao empoderar mulheres e tirá-las do papel de ‘garotas finais’

São Paulo

ALERTA: Este texto contém spoilers dos filmes da franquia “Pânico”.

“Pânico 6” é talvez o filme mais sangrento da saga iniciada em 1996, com closes de facadas bastante gráficas em locais variados da anatomia humana. Paradoxalmente, também é o mais feminino. Não só pela presença constante de mulheres na tela, mas por não relegar a nenhuma delas o papel de “final girl” (ou garota final, a mocinha etérea que sempre sobrevive no final do filme para contar a história).

À frente do grupo de sobreviventes da tragédia narrada no filme anterior, está Sam (Melissa Barrera). Como já revelado, ela é filha de Billy Loomis (Skeet Ulrich), o principal assassino do primeiro filme. Na nova produção, ela continua tentando fugir dessa suposta “herança maldita”, mas acaba aceitando que seu instinto fala mais alto quando alguém mexe com sua família.

A moça vive para proteger a meia-irmã, Tara, que agora faz faculdade em Nova York (sim, o Ghostface pela primeira vez sai de Woodsboro e faz uma incursão na cidade grande). A estudante é vivida por Jenna Ortega, que desde o ano passado se consolidou como uma das “rainhas do grito” por filmes como “X – A Marca da Morte”, além de ter gravado seu nome no imaginário popular como a protagonista de “Wandinha”, da Netflix. Aliás, é possível ver de relance uma pessoa fantasiada como a filha da Família Addams em uma festa de Halloween mostrada no começo dessa nova parte da franquia.

Tara, porém, sabe muito bem se cuidar sozinha. Embora precise do cuidado do grupo em um primeiro momento, isso se dá mais no sentido de evitar que ela tome uma decisão da qual pode se arrepender depois. Mesmo franzina, ela briga de igual para igual quando tem um assassino mascarado pela frente.

Mas as irmãs Carpenter não são as únicas mulheres empoderadas que habitam a tela. Mindy (Jasmin Savoy Brown), outra sobrevivente do filme, é a estudante de cinema que sabe tudo sobre as regras dos slashers —papel restrito a homens nos primeiros filmes— e avisa que, desta vez, o assassino está seguindo as regras de uma franquia, não de uma continuação. Ou seja, tudo tem que ser maior do que no filme anterior, e as expectativas precisam ser subvertidas. Ela namora a colega Anika (Devyn Nekoda), que de tão dócil se torna suspeita.

Outra personagem interessante é Quinn Bailey (Liana Liberato), colega de apartamento das irmãs protagonistas. Segura da própria sexualidade, ela “pega, mas não se apega” —ou seja, está sempre com um rapaz diferente dentro do quarto. E tem resposta sempre na ponta da língua para quem sugere que isso pode ser um demérito. Será que a regra de que mocinhas não podem fazer sexo em filmes de terror (algo, convenhamos, com significado simbólico bastante literal) irá por terra de uma vez por todas?

E temos, claro, o retorno de personagens clássicas. A ambiciosa jornalista Gale Weathers (Courteney Cox) volta mais uma vez a se ver frente a frente com um assassino —e se torna a única a aparecer em todos os filmes da franquia. Já Kirby Reed (Hayden Panettiere), uma estudante que sobreviveu aos crimes de “Pânico 4”, volta como uma agente do FBI (a polícia federal americana) empenhada em resolver os novos crimes.

Ao privilegiar o desenvolvimento dos papéis femininos, o filme acaba com uma contagem alta de cadáveres, mas com saldo positivo para as mulheres, que já não são as vítimas preferenciais. Os homens estão a serviço delas, sendo quase descartáveis nos papéis de irmão, pai, “crush” ou “vizinho gato”. O auge disso se dá com o namorado de Gale, que mal tem falas.

Mas, então, é isso: ninguém solta a mão de ninguém e nenhuma mulher a menos? Bem, pelo menos nos bastidores, a história é outra. Neve Campbell, que viveu a protagonista original, Sidney Prescott, e esteve em todos os filmes anteriores, não aparece pela primeira vez em um filme da franquia.

O motivo: ela não aceitou o salário que ofereceram para que ela retornasse. “Como mulher, tive que trabalhar de forma extremamente dura na minha carreira para estabelecer o meu valor, especialmente quando se trata de ‘Pânico’. Senti que a oferta que me foi apresentada não correspondia ao valor que eu trouxe para a franquia”, declarou ela ao fazer o anúncio, para tristeza dos fãs.

Como se vê, a luta está longe de terminar. Seja nas telas ou fora delas.

Fonte: Folha de SP

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