No desastroso ’65 – Ameaça Pré-Histórica’ faltam lógica, ação e dinossauros – 09/03/2023

A ficção científica traz alguns títulos notáveis que certamente marcaram sua história – não exatamente de forma positiva. “Howard, o Super-Herói”, “Highlander 2: A Ressurreição”, “A Reconquista” e “Depois da Terra” arranham o fundo do poço do gênero, pérolas que agora ganham a companhia deste “65 – Ameaça Pré-Histórica”.

A premissa é digna dos melhores filmes B. Uma astronave com colonos espaciais de um mundo distante cai na Terra pré-histórica após atravessar uma chuva de meteoros. O piloto e uma garotinha, únicos sobreviventes do desastre, agora precisam cruzar um terreno hostil, cercado de feras assassinas, para alcançar um módulo de fuga e escapar com vida.

A habilidade com que a dupla de diretores Scott Beck e Bryan Woods destrói qualquer diversão que esse conceito inóspito sugere é exemplar. Não existe em “65” nenhum traço de tensão, de roteiro coerente, de continuidade, lógica ou suspense. O maior dos pecados? Em um filme que coloca um herói solitário em um mundo dominado por dinossauros… faltam dinossauros!

Deve ser alguma regra: todo ator hollywoodiano teve de passar vergonha em um filme tosco em algum ponto de sua carreira. O agente de Adam Driver, portanto, merece aplausos por tê-lo convencido a embarcar nessa canoa furada. O astro é Mills, piloto que que deixa seu mundo (e uma filha doente) para trás pois precisa trabalhar em uma missão que vai lhe custar um par de anos no espaço.

Nem vou insultar a inteligência do leitor dizendo que Driver “faz um bom trabalho”. Suas consideráveis habilidades dramáticas aqui são traduzidas em um estado de apatia permanente. Mesmo com a morte espreitando em cada centímetro da Terra pré-histórica, ele não faz o menor esforço para valer o cheque. Perto de Mills, Kylo Ren é personagem shakespeariano.

Seu contraponto é Koa (Ariana Greenblat), passageira mirim que sequer fala a língua de Mills e encara a jornada pela paisagem inóspita como se fosse excursão do colégio. Em um lugar onde cada criatura tem o único impulso de te devorar, ela encontra tempo para resgatar um bebê dinossauro de um poço de piche – somente para chorar quando a natureza segue seu curso. Queria estar brincando. Não estou.

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Mills e Koa estão prestes a conhecer o protagonista de ‘Jurassic Park’

Imagem: Sony

Claro, os dinossauros! Até que dava para perdoar todos os pecados de um filme batizado “65 – Ameaça Pré-Histórica” se ele ao menos cumprisse sua parte da barganha, que seria caprichar na ação primordial. Ter o básico, como algumas feras dentuças se estraçalhando pelo direito de devorar os sacos de carne zanzando pelo cenário.

Vã esperança. Os bichões provavelmente estavam em seu intervalo de almoço, já que só aparecem em duas ou três sequências que mal preenchem o buraco do dente. A certa altura, Mills é picado no pescoço e mata um besouro do tamanho de sua mão. Um único inseto solitário a aparecer em um filme inteiramente ambientado na selva. Eu passei dois dias no Pantanal em Mato Grosso e esgotei o estoque de repelente.

Se faltam dinossauros, sobram cenas “emocionantes” em que Mills torna-se figura paterna para Koa. “65” também perde tempo considerável em uma caverna em que nosso herói é atacado (por um dinossauro solitário, veja só), e ainda encontra espaço para explicar, de forma canhestra, o que eliminou os “lagartos terríveis” de nosso planeta. “Discovery Channel” perde.

“65” é feito sem o menor zelo (equipamentos somem e reaparecem sem aviso, Mills é ferido mortalmente e logo não se toca mais no assunto), um filme que mal qualifica na categoria “tão ruim que é bom”. Ainda assim, existe nele uma única qualidade redentora: essa “Ameaça Pré-Histórica” mal tem uma horinha e meia, uma sessão vapt vupt, raridade no cinemão do novo século. Viva!



Fonte: UOL Cinema

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