Julia Louis-Dreyfus sobre ser mãe de Jonah Hill em filme: ‘Muito nova para o papel’

São Paulo

De “O Pai da Noiva” (1950) a “Entrando numa Fria” (2000), filmes sobre as divergências entre as famílias de um casal que funciona muito bem longe delas são um clássico do gênero comédia. A fórmula, no entanto, ganha uma nova roupagem em “Certas Pessoas”, que estreia na sexta-feira (27) na Netflix.

Na trama, Ezra (Jonah Hill) é um corretor de investimentos que sonha em viver do podcast que apresenta com a melhor amiga. Por engano, ele entra no carro de Amira (Lauren London) achando se tratar de um Uber. Apesar de se estranharem num primeiro momento, os dois acabam se envolvendo e começam a namorar.

É aí que entram as respectivas famílias —e suas diferenças. A dele é judia, a dela muçulmana. No começo, os pequenos atritos parecem não ser tão importantes, mas eles começam a incomodar à medida que vão se acumulando, e se tornam um desafio para o casal.

Julia Louis-Dreyfus, 62, vive a matriarca dos Cohen e, em entrevista ao F5, brinca com o fato de interpretar a mãe de Jonah Hill, que tem 39 anos. “Ele é fabuloso, mas sou muito nova para esse papel”, diz. “Decidi que tivemos esse filho quando estava na 8ª série, mas isso já é outro filme —inclusive estamos em negociação para filmá-lo agora (risos).”

Conhecida pelo papel de Elaine em “Seinfeld” (1989-1998) e premiadíssima pelo papel de Selina Meyer em “Veep” (2012-2019), a atriz conta que sua personagem, Shelley Cohen, tem boas intenções, apesar de sempre dizer a coisa errada quando tenta se aproximar da nora, que é negra. A questão também é explorada pelo roteiro, como na cena em que Shelley acredita que Amira foi vítima de racismo porque uma pessoa passou na frente delas em um spa.

“Ela usa um excesso de afinco para se certificar de que todos entendam que está do lado deles”, comenta. “Ela quer ser tão querida por eles quanto quer bem ao casal, só que ela faz isso ao ponto de acabar se comportando como uma completa idiota.”

Para ela, apesar de a história se passar em Los Angeles, nos Estados Unidos, o apelo é bem mais amplo. “O choque de culturas que é visto no filme é bem particular, com uma família liberal que passa a aprender a partir de um fenômeno que eu diria que vem acontecendo muito por aqui”, avalia. “[Mas] as diferenças culturais e raciais me parece que são questões que estão aí desde que a humanidade existe.”

David Duchovny, 62, é quem faz o papel de Arnold, marido de Shelley e pai de Ezra. O patriarca dos Cohen também tem seus momentos constrangedores, mas é bem mais desencanado que a esposa. Após caçar alienígenas em “Arquivo X” (1993-2018) e seduzir mulheres em “Californication” (2007-2014), o ator diz que o fato de Arnold ser uma pessoa absolutamente comum foi o que mais chamou sua atenção no personagem.

“É a primeira vez que eu interpreto uma pessoa que está completamente à vontade consigo mesmo e absolutamente contente com sua vida, com sua mulher, com seus filhos, com seu trabalho e com tudo mais”, afirma. “Achei isso interessante, por mais desinteressante que possa parecer.”

Do outro lado, estão os pais de Amira, Akbar e Fatima Mohammed, vividos por Eddie Murphy, 61, e Nia Long, 52, respectivamente. Superprotetor, ele tenta por o amor de Ezra pela filha à prova ao colocá-lo em situações que poderiam deixá-lo desconfortável, como ao levá-lo para jogar basquete em uma quadra frequentada só por negros.

Assim como Arnold, Fatima é a metade mais centrada do casal Mohammed. “Fatima talvez seja um pouco mais quieta e sutil, mas muito forte”, garante a intérprete. “E isso sem precisar falar muito ou ser a mulher preta raivosa ou uma caricatura do que você esperaria que fosse uma mãe nessa situação. Acho esse filme especial justamente por ir na contramão dos estereótipos.”

Long destaca que, para ela, as microagressões exploradas pelo roteiro são bastante plausíveis. “Fui uma mulher negra a vida inteira, estive em todas essas situações”, afirma. A atriz ainda destaca as cenas com Julia Louis-Dreyfus como suas favoritas, em especial o momento em que elas finalmente se entendem. “Nesse momento, somos humanas. É uma coisa de mulher para mulher, de mãe para mãe. Não é sobre ser negra ou judia, é sobre uma conexão real entre as duas.”

O filme é dirigido pelo estreante Kenya Barris, 48, que ganhou fama como criador da série “Black-ish” (2014-2022). Ele conta que a ideia surgiu durante um bate-papo telefônico com Jonah Hill, com quem também assina o roteiro, no qual o ator contou que estava namorando uma colombiana e que havia percebido que as diferenças culturais não eram um problema para o casal, mas sim para as pessoas que estavam a seu redor —em 2022, Hill anunciou que não faria mais a promoção de seus filmes por ter ataques de ansiedade antes desse tipo de compromisso.

O fato de ambos serem de Los Angeles fez com que a cidade fosse escolhida como foco, levando em conta também as próprias vivências na cidade. “Eu cresci em uma comunidade predominantemente preta e, pela forma como a cidade é configurada, só comecei a me misturar no colegial”, comenta Barris. “Foi quando comecei a ter meus primeiros amigos brancos e a perceber as semelhanças e diferenças.”

Juntando as duas experiências, a dupla percebeu o que queria explorar na obra. “Foi assim que decidimos celebrar tudo isso e fazer uma carta de amor à nossa cidade, às culturas diferentes e ao próprio amor, sabe?”, diz. “No fim das contas, o que estamos tentando dizer é que temos semelhanças e diferenças, mas que o realmente nos une como humanidade é o amor. É isso que queremos passar adiante.”



Fonte: Folha de SP

4 Comments

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