por que tantos vencedores são tão criticados?

Como ganhar um Oscar? O que faz de um filme mais merecedor que outros do prêmio principal? Há alguma fórmula a ser seguida para chegar até o prêmio máximo da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas?

As respostas para as duas primeiras perguntas exigem um pouco mais de complexidade, mas a resposta simplificada para a terceira delas é “sim”. Existe uma explicação para o fato de a grande maioria dos vencedores de melhor filme dos anos recentes parecerem ter algo em comum, como se cumprissem exigências de uma lista que os torna mais agradáveis aos votantes.

Criar regras e pontos objetivos para julgar a qualidade de obras que são subjetivas e depois elencá-las da melhor para a pior é questionável, mas talvez mais grave do que isso seja o fato de que a busca por se encaixar nesses critérios faz com que a premiação seja cada vez mais marketing e um jogo de poder, e cada vez menos sobre a arte cinematográfica propriamente dita.

Tentar encaixar um filme nestes tais critérios também torna todo o cenário mais previsível e enfadonho, mas também faz com que os filmes caiam vítimas de um sistema que valoriza cada vez menos a originalidade e as tentativas de extrapolar as caixinhas.

É por isso, também, que muitas vezes ficamos diante de vencedores de melhor filme que, durante certo tempo, até são capazes de se manter nas conversas e nos debates, mas não conseguem se sustentar diante da prova da relevância e do tempo.

Algumas vezes, isso é mais sintomático do que outras. Em 2019, por exemplo, o desagradável e problemático “Green Book: O Guia” ganhou o prêmio de melhor filme em um ano com “Infiltrado na Klan” entre os indicados. No mesmo ano, o trágico “Bohemian Rhapsody” levou quatro estatuetas, incluindo a de melhor montagem e a de melhor ator.

BoRhap - Reprodução - Reprodução

Rami Malek em cena criticada de “Bohemian Rhapsody”

Imagem: Reprodução

Poucos anos depois, são dois filmes completamente irrelevantes e apagados, que não deixam nada de impactante na forma como escolheram contar suas histórias (ambas baseadas em fatos) ou em possíveis ideias revolucionárias e inovadoras que poderiam ter deixado para direção, atuação ou a cinematografia de modo amplo.

Outras vezes, ficamos diante de casos menos sintomáticos, como em “Spotlight: Segredos Revelados” (2015) ou “O Discurso do Rei” (2010). Objetivamente falando, não são filmes que perpetuam para a eternidade, mas também não são obras cuja celebração beira o ofensivo.

Por isso, o debate e as desavenças sobre a qualidade ou a excelência de um filme ou outro são sempre saudáveis, mas o quanto os vencedores de melhor filme no Oscar são cada vez mais questionados (a exceção recente é a histórica vitória de “Parasita”, em 2020) têm muito mais relação com o quanto, a cada ano, a celebração de obras realmente impactantes e inovadoras está perdendo espaço para o poder monetário de grandes estúdios e fórmulas prontas.



Fonte: UOL Cinema

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