A Argentina vive um novo domingo “caliente”, explodindo de calor, com termômetros passando dos 40 graus. Como na Copa do Mundo do Qatar, quando os vizinhos conquistaram sua terceira estrela, hoje (12) pode terminar também com outra “terceira” -estatueta, no caso.
O candidato da vez ao Oscar de melhor filme internacional é o imperdível “Argentina, 1985”, estrelado pelo ator Ricardo Darín, sucesso de público e crítica também no Brasil.
Seria a terceira conquista do cinema do país em tal distinção.
Como um típico argentino, Darín é apaixonado por futebol e conhece demais o assunto, a ponto de usar tal entendimento para sustentar opiniões que não costumam agradar a todos.
Uma delas foi sobre Pelé. “Ele sempre foi uma besta”, disparou à “Playboy” em 2013.
“O Pelé sempre esteve ao lado do poder. Fez um acordo com uma multinacional e está tranquilo para o resto da vida. É uma pena, um cara tão grande como ele foi, um verdadeiro craque, e que deveria estar ao lado do povo. É uma lástima, o Pelé é uma lástima.”
Maradona acima de Pelé
Na mesma entrevista, ele venerou o amigo Diego Maradona: “Não dá para comparar, pois pertencem a duas épocas distintas do futebol. Vi ambos jogarem muitas vezes”.
“Pelé foi um atleta, mas Maradona era mais rápido e habilidoso em situações difíceis. Mas não posso ser hipócrita: meu coração está do lado do Diego.”
A antipatia que a figura de Pelé lhe despertava, porém, não borrou a magia que o garoto portenho experimentou ao ver o Santos dos anos 1960 e 1970.
“Tive a sorte de ver jogar o Santos de Pelé”, contou Darín à TV Globo em 2020.
“Então não posso esquecer isso. Vi muitos jogos do Santos, mas não significa que eu seja um torcedor do Santos, pois também vi outros bons times, como o Flamengo, Botafogo, Vasco, o Inter…”
“Enfim, vi muitos times bons em épocas diferentes, mas não esqueço o Santos de Pelé. Às vezes, era a perfeição do futebol.”
Outra polêmica de Darín com o futebol diz respeito ao River Plate.
Até 2011, ele era um “simpatizante” do gigante de Núñez, quando Ricardo, afirma, se comoveu com a queda do gigante portenho para a Série B, algo que seus detratores na argentina tratam como um puro oportunismo.
“Para ser honesto, virei torcedor de verdade quando o River foi para a B, dá para acreditar? Não perdi um único jogo, isso mexeu demais comigo. Eu ia muito ao estádio em 1975 [ano histórico em que o River saiu da fila de 17 anos], tempos do Beto Alonso”, contou o ator à Radio del Plata, em 2020.
A era Gallardo foi plenamente disfrutada por ele.
“Não só como o time jogava, mas pela maneira como Marcelo pensava”, seguiu, rindo dos malabarismos que fazia para acompanhar o River na Europa, quando os jogos ocorriam na madrugada pelo horário local.
“Nem assim perdi o fanatismo”, finalizou Darín, de famosa amizade com o lendário técnico Cesar Luis Menotti, histórico elo do futebol com a cultura argentina.
Messi foi seu taxista
Famoso pelas mensagens trocadas com Messi nas redes sociais, Darín guarda uma história interessante com o ídolo argentino -e sua relação com o atual capitão argentino era usada anos atrás como um exemplo dos expoentes do país que pouco se importavam com o que ocorria na própria terra (um exemplo, Messi por muitos anos ser tratado como “muito mais catalão que argentino”).
“Eu estava trabalhando em Barcelona, dando entrevistas, explicando que minha relação com Messi era superficial, que ele às vezes me via no teatro e saíamos para comer, nada muito além disso.”
“Ninguém acreditou muito. A assessora que estava comigo não botou fé. Saímos da rádio, era tarde, estava difícil arrumar um táxi, e daqui a pouco aparece Messi, dirigindo, sozinho, e me deu carona até o hotel.”
“Aí que a assessora realmente não acreditou em nada”, finalizou, rindo, à TV argentina C5N, no mês passado.
Messi tinha só 19 anos. Era 2006.
Dentro daquele carro, duas estrelas.
Que podem, a partir de hoje, brilhar no céu argentino como “as terceiras”.
Fonte: UOL Cinema