Brendan está indicado ao Oscar de Melhor Ator por sua atuação no filme de Darren Aronofsky
Logo após a sessão de “A Baleia”, me peguei pensando se o Capitão Ahab de “Moby Dick”, livro de Herman Melville, tivesse alguns minutos de conversa com a baleia que lhe arrancou uma perna e que se tornou sua maior obsessão. Provavelmente, Ahab não daria muitas chances para que o animal explicasse seu instintos, e logo partiria para a ignorância, e isso criou uma ideia na minha cabeça: é possível traçar um paralelo entre a relação do capitão e a baleia à do protagonista do filme de Darren Aronofsky, vivido por Brendan Fraser, e sua filha, vivida por Sadie Sink.
Na história, Fraser é Charlie, um professor de inglês recluso com obesidade mórbida que, após tantas escolhas que o afastaram de sua família, decide tentar se reconectar com sua filha adolescente em busca de redenção, antes que seja tarde demais. O longa tem como base a peça homônima de Samuel D. Hunter, e o tom teatral fica evidente no cenário: tudo se passa na casa de Charlie que constantemente é visitado por sua cuidadora Liz (Hong Chau), um entregador de pizzas, sua ex-mulher Mary (Samantha Morton), o missionário Thomas (Ty Simpkins) e, logicamente, a filha Ellie (Sink), a visita que mais lhe interessa.
O primeiro encontro entre Ellie e Charlie não é nada fácil. A filha é arredia com o pai em uma atitude que muitos devem repreender, entretanto, o gesto da jovem se torna extremamente compreensível a partir do momento em que tomamos conhecimento que Charlie largou a família quando a garota tinha 8 anos. O motivo? Viver um romance com outro homem. Um ex-aluno. Há aí um detalhe julgador a partir de uma visão cristã, por isso a figura do missionário é bem clara com Charlie: você está sendo punido porque viveu em um relacionamento homoafetivo.
Aronofsky, um diretor nada discreto, com uma filmografia que dispensa apresentações que vai de de obras premiadas como “Cisne Negro” (2010) às mais polêmicas como “Réquiem para um Sonho” (2000), desde muito tempo lança um olhar para o religioso, seja por meio de metáforas, como no divisivo “mãe!” (2017), ou dando a sua visão para uma das mais famosas figuras bíblicas, como no controverso “Noé” (2014). Uma coisa é fato: Aronofsky quer provocar.
E ele começa sua provocação já ao escalar Brendan Fraser para viver um personagem de 270 quilos. Se fosse um ator obeso, será que sentiríamos a mesma repulsa pelo personagem? Difícil saber, mas em se tratando de um ator maquiado, a escolha é óbvia: Aronofsky quer nos causar desconforto. Charlie é retratado como um monstro. Ele devora sua comida como um animal, exibe suas gorduras – feitas a partir de um processo de maquiagem digno de aplausos, não à toa, indicado ao Oscar da categoria – enquanto se arrasta com esforço pela casa apertada, escura e de aspecto sujo.
Ainda assim, por trás de toda esta camada que nossos olhos ousam em condenar, parece haver em Charlie alguém que realmente busca por redenção e pelo perdão da filha. Como julgá-lo? A Bíblia diz que, para ter o perdão, basta se arrepender. E este protagonista complexo, de atitudes que o sentenciam, cercado também por personagens de morais questionáveis – a enfermeira que não o reprime, o missionário que fuma maconha, a filha que o explora – só quer tirar de si o peso que ele carrega – e não estou falando do peso literal.
É a partir de todo esse “entra e sai” da casa de Charlie que nos tornamos testemunhas de um personagem que já sabe o seu fim. Será que Ahab também sabia o seu? É como se tivéssemos o privilégio – nada agradável, é verdade – de acompanhar as últimas horas de uma pessoa afundada em suas lamentações. Se adaptado como um musical, “A Baleia” teria um canto choroso à la “Os Miseráveis” (2012) – outra história de redenção sobre um personagem discriminado -, não é a toa que a trilha sonora assinada por Rob Simonsen apela para o melodrama e o sentimentalismo, a situação é realmente essa: uma despedida embalada por notas tristes e melancólicas.
De maneira incisiva, “A Baleia” – e nós mesmos – olha(mos) para Charlie como Ahab olha para o seu próprio orgulho: ferido, precisando ser posto à prova, apenas para ter a certeza que pelo menos tentou novamente. Se Ahab era ávido por seu reencontro com a baleia que lhe arrancou a perna, Charlie quer a oportunidade de partir dessa vida sabendo que fez pelo menos uma coisa de bom. Quando tal resposta vem, o personagem transcende. Sem pintar mocinhos e vilões, o longa de Darren Aronofsky prova que todos merecem uma chance de se redimir.
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- “Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania” (16 de fevereiro)
- “A Baleia” (23 de fevereiro)
- “Pânico VI” (9 de março)
- “Shazam! Fúria dos Deuses” (16 de março)
- “John Wick 4: Baba Yaga” (23 de março)
- “Super Mario Bros. O Filme” (30 de março)
- “Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes” (13 de abril)
- “Guardiões da Galáxia: Volume 3” (4 de maio)
- “Velozes & Furiosos 10” (18 de maio)
- “A Pequena Sereia” (25 de maio)
- “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” (1º de junho)
- “The Flash” (16 de junho)
- “Indiana Jones e o Chamado do Destino” (29 de junho)
- “Missão Impossível: Acerto de Contas – Parte 1” (13 de julho)
- “Barbie” (20 de julho)
- “Oppenheimer” (20 de julho)
- “Besouro Azul” (17 de agosto)
- “As Marvels” (27 de julho)
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Fonte: UOL Cinema