Do diretor Alê Abreu, Perlimps não subestima crianças

Alê Abreu já tinha no currículo o excelente filme Garoto Cósmico (2007) quando foi indicado ao Oscar de melhor animação em 2016 com O Menino e o Mundo. Sete anos depois de concorrer ao prêmio máximo do cinema, ele finalmente está de volta com Perlimps, uma história sobre amizade que acerta em cheio ao não subestimar as crianças –seu principal público-alvo– e buscar espectadores de todas as idades.

Perlimps conta a história da raposa Claé (voz de Lorenzo Tarantelli) e do urso Bruô (Giulia Benite), agentes secretos dos reinos do Sol e da Lua, respectivamente. Após se encontrarem por acaso e baterem de frente por terem visões bem diferentes do mundo, os dois precisam unir forças em uma missão contra gigantes que ameaçam a existência da floresta onde vivem.

Os vilões, seres metálicos, frios e aparentemente sem coração, preparam uma arma chamada de Grande Onda, com poder de destruição imensurável. A única maneira de vencê-los é encontrando e reunindo os Perlimps, criaturas mágicas e misteriosas que podem ser encontradas apenas com um detector especial pelo qual Claé e Bruô lutam bastante.

Com o desenrolar da história, é possível perceber que os gigantes são, na verdade, humanos que estão construindo uma hidrelétrica, e que a Grande Onda nada mais é do que a abertura da represa que vai acabar com a natureza ao redor da usina. Mas nada disso é entregue de maneira mastigada, e Perlimps apresenta uma série de metáforas –como uma parede que divide as pessoas dos animais, que remete à cisão entre Israel e Palestina ou ao muro que Donald Trump tentou erguer entre Estados Unidos e México– para engajar o seu público e levantar questionamentos.

A mensagem ecológica também não é forçada goela abaixo dos espectadores, pois sequer foi planejada por Alê Abreu na concepção de Perlimps. “Nunca foi a minha intenção. Mas eu acho que é normal que o artista receba informações do mundo, que depois são filtradas e algumas coisas inconscientemente acabam dizendo mais do que outras. Na hora que a gente está fazendo um desenho, atuando, dançando, isso vem como expressão, né? Como uma forma de arte. E tem que ser assim, tem que deixar vir, esse é o trabalho do artista. Muito do que eu acredito na minha vida passa por essa coisa meio inconsciente e acaba chegando no filme”, apontou o diretor em conversa exclusiva com a Tangerina.

Como a trama é construída toda em cima de Claé e Bruô, a química entre os dois protagonistas era essencial para que o longa funcionasse. E Giulia Benite e Lorenzo Tarantelli entregam um trabalho brilhante nas vozes, demonstrando uma maturidade profissional que vai muito além de sua pouca idade. Os personagens parecem de verdade, com uma dinâmica que os leva de rivais e parceiros sem queimar nenhuma etapa.

Perlimps também acerta com um estilo de animação minimalista, mas extremamente bonito e bem feito, com cores vivas que vão se apagando no decorrer da história, conforme a narrativa se aproxima do mundo humano. E a trilha sonora composta por André Hosoi (do grupo Barbatuques) também é de tirar o fôlego.

Humilde, Alê Abreu jamais diria que sonha com outra indicação ao Oscar, mas Perlimps certamente tem todos os méritos para conquistar uma vaga entre os preferidos da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. A animação estreia nesta quinta-feira (9) em cinemas de todo o país. Confira o trailer:

Bruô e Claé em cena de Perlimps

Perlimps

Confira o trailer da animação nacional



Fonte: UOL Cinema

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