Inovador e criativo: o passado da Coreia do Sul explica sucesso no cinema – 13/03/2023

Antes da virada do milênio, não era possível prever que a Coreia do Sul um dia se tornaria uma nação cultural influente.

As verdadeiras reformas democráticas só aconteceram em 1987, após décadas como colônia japonesa e de sucessivos governos militares. Mas o protagonismo econômico veio com marcas como Samsung, Hyundai e LG.

Até alguns anos atrás, o Ocidente só associava a Coreia do Sul a K-Pop, taekwondo e kimchi. Mas, no cinema, era diferente.

Desde a virada do milênio, produções como a “trilogia da vingança” de Park Chan-wook (Mr. Vingança, Oldboy, Lady Vingança), e Primavera, verão, outono, inverno… e primavera, de Kim Ki-duk, tiveram grande repercussão.

Os filmes e séries coreanos caminharam para se tornar parte integrante da indústria global de entretenimento.

A Hallyu, como se chama a onda sul-coreana na cultura pop, varreu o mundo. Em referência à americana Hollywood, a indiana Bollywood e a nigeriana Nollywood, a indústria cinematográfica da Coreia do Sul já é apelidada de Hallyuwood.

E hoje os principais estúdios dos EUA abriram sucursais no país asiático. A Netflix quer dar continuidade ao grande sucesso mundial Round 6 ainda em 2023, e está cada vez mais interessada em filmes e séries sul-coreanas. Nos cinemas europeus, o mais recente trabalho do diretor sul-coreano Park Chan-wook, Decisão de partir, está causando furor.

Claro, nem todas as produções da Coreia do Sul são “grande cinema”. Elas também podem ser desinteressantes ou completamente superficiais, mas há uma linha em comum: o uso inovador e altamente criativo de narrativa, câmera e edição.

Apesar do sucesso comercial de suas obras, os diretores nacionais parecem pouco dispostos a concessões em seus padrões artísticos.

Pensar fora da caixa parece ser a regra, não a exceção.

Imagens como a da personagem Oh Dae-su, de Oldboy, comendo um polvo vivo ou atacando seus oponentes com um martelo, no estilo da estética dos videogames, são inusitadas e ficam gravadas na memória.

A vontade transgressora e o poder criativo do cinema coreano certamente também têm relação com a história recente do país.

Muitos dos grandes mestres do cinema coreano cresceram durante o período de resistência civil ao governo militar.

Eles assistiram e discutiram secretamente filmes proibidos em seus cineclubes universitários.

A separação em relação à Coreia do Norte, ainda sob regime ditatorial, e o rápido triunfo do turbocapitalismo também contribuíram para sua visão crítica do mundo.

As maquinações das grandes corporações, o fosso crescente entre ricos e pobres: tudo isso dá muito material para os cineastas.

E a Coreia do Sul é um país onde importa ser moderno e inovador: cenas culturais criativas e cosmopolitas estão prosperando não apenas na capital, Seul, mas em todas as metrópoles.

Quem quer se destacar artisticamente, precisa criar algo realmente especial.

O Estado também contribui com uma alta contribuição para a produção nacional.

Quem já esteve na Coreia do Sul sabe que o cinema não é celebrado apenas em privado, mas também publicamente: uma rotatória no centro da cidade de Jeonju, conhecida por seu festival internacional de cinema, é adornada pela estátua de um cinegrafista —e isso durante todo o ano, não apenas na época dos festivais.

Os próximos anos mostrarão como a indústria cinematográfica da Coreia do Sul se desenvolverá.

Uma de suas maiores fraquezas é ainda ser muito dominada por homens. Nos últimos anos, houve apenas pequenos avanços: no Festival de Cinema de Busan de 2019, 27% dos filmes coreanos foram dirigidos por mulheres – um salto quântico em comparação aos anos anteriores.

Mas, em termos de emancipação, a indústria cinematográfica nacional ainda tem muito a fazer, para o país conseguir acompanhar a concorrência ocidental.

Agora que os filmes e séries coreanos se tornaram badalados e parte do mainstream, Hallyuwood pode enfrentar o mesmo destino de seus predecessores: estagnação criativa ou crises financeiras.

Mas assim como Hollywood está constantemente se renovando, o cinema sul-coreano com sua jovem mas forte tradição cinematográfica também conseguirá se manter relevante no futuro.

Afinal, não faltam histórias da “Terra da Calma Matinal” para contar.



Fonte: UOL Cinema

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