Novo ‘Shazam!’ mostra por que filmes de super-heróis precisam se reinventar – 16/03/2023

“Shazam! Fúria dos Deuses” é um filme agridoce. Não há nada na produção dirigida por David F. Sandberg que o desabone como aventura de super-herói para a criançada. É colorido, tem senso de humor e segue a fórmula do gênero à risca.

Por outro lado, não existe aqui nem um fragmento do encanto que filmes com os heróis dos gibis um dia trouxeram. Espinha dorsal do cinemão pop há pouco mais de uma década, os personagens de poderes fantásticos hoje encabeçam produções burocráticas, sem brilho. São mera peça em uma engrenagem que trocou criatividade por corporativismo.

Não que propriedades intelectuais que enfeitam o catálogo dos gigantes da mídia tenham espaço para grandes arroubos artísticos. Mas de “Superman – O Filme” a “Batman – O Cavaleiro das Trevas”, de “Homem-Aranha” a “Pantera Negra”, não são poucos os exemplos em que o dedo de um autor se sobressai ante as obrigações de sua obra como produto.

Este “Fúria dos Deuses”, por outro lado, parece conformado em seu papel burocrático. É uma pena, já que o próprio Sandberg mostrou com o primeiro “Shazam!”, lançado em 2019, que era possível se divertir com os brinquedos alheios sem comprometer uma visão artística mínima.

Ainda parte do universo DC no cinema (já já voltamos a essa questão), Shazam contenta-se em cuidar de seu quintal, no caso a Filadélfia. É onde o herói interpretado por Zachary Levi age ao lado de sua família super poderosa, mesmo que a opinião pública os trate como um grande fiasco.

A ameaça se torna séria quando um trio de deusas, as Filhas de Atlas, chega à Terra para reclamar os poderes supostamente apropriados por Shazam e cia. A trama não se dá o trabalho de explicar de fato o que está acontecendo, e se apressa em colocar Helen Mirren, Lucy Liu e Rachel Zegler como divindades dispostas a encontrar um artefato místico capaz de restaurar a glória de seu próprio reino.

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Shazam tem um papo informal com a deusa interpretada poir Helen Mirren

Imagem: Warner

As ações das vilãs incluem remover os poderes da família de Shazam e, em uma ação de vingança perpetrada por uma delas, transformar a própria Terra em um reino devastado, com direito a monstros mitológicos e um dragão enfezado. Existe uma trama paralela sobre Billy Batson (Asher Angel), identidade secreta do herói, se preocupar em envelhecer e perder sua família. Mas o desenvolvimento dessa trama é nulo.

A identidade dupla do herói é, por sinal, um dos grandes problemas de “Fúria dos Deuses”. Fazia sentido no primeiro filme sua versão adulta manter as atitudes e o deslumbre de um adolescente de 13 anos. O novo filme, contudo, coloca Levi, sua “versão adulta”, como um paspalho que não corresponde à personalidade mais madura de Angel, agora com quase 18 anos. O filme não dialoga consigo mesmo, restando um arremedo de texto em cenas de ação que dependem mais de efeitos digitais do que deveriam.

Para quem acompanha todo o drama do universo da DC no cinema, que perdeu o estilo sombrio e equivocado de Zack Snyder e se prepara para uma nova era encabeçada por James Gunn, “Shazam! Fúria dos Deuses” joga ainda mais areia na salada. O filme traz um personagem emblemático em uma ponta sem o menor sentido, e termina com duas cenas pós créditos que sugerem um continuísmo torto para o herói místico.

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É regra: todo filme fica ao menos mais divertido com um dragão

Imagem: Warner

James Gunn, que vai dirigir o marco zero da nova DC com “Superman Legacy”, agendado para 2025, parece ser partidário do conceito que menos é mais. À frente dos próximos filmes do estúdio, ele prometeu lançar menos produtos e priorizar qualidade e não volume. A Marvel, embora ainda não tenha desacelerado oficialmente, sugere que vai seguir um caminho parecido.

É uma estratégia esperta que deve demorar a ser posta em prática. Afinal, este ano outros sete filmes de super-heróis entre Marvel e DC chegam ao cinema. A bilheteria abaixo do esperado de “Quantumania” acendeu um alerta. “Shazam! Fúria dos Deuses” vai precisar mais do que uma palavra mágica para reverter o jogo.



Fonte: UOL Cinema

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