‘Pânico 6’ capricha na violência mas não mexe com a fórmula de sempre – 08/03/2023

Reclamar que os filmes da série “Pânico” são todos iguais é passar ao largo de seu propósito. Desde que Wes Craven dirigiu o primeiro da lista em 1996, a ideia era tecer um comentário ácido e bem-humorado sobre os slasher movies, filmes de terror em que um assassino acumula vítimas, usando a própria fórmula do gênero. Deu certo.

Na verdade, deu tão certo que cá estamos, quase três décadas depois, com o sexto exemplar de “Pânico” chegando aos cinemas. A ironia permanece intacta, com personagens perseguidos por um assassino mascarado, totalmente cientes das regras do gênero, de suas infinitas continuações e, agora, de como o cinema ampliou seu leque em “franquias”, palavra detestável mas que colou.

Ou seja, “Pânico 6” pode dar um verniz moderno a uma propriedade intelectual valiosa, mas no fim segue como uma variação da narrativa criada pelo roteirista Kevin Williamson, que Wes Craven traduziu à perfeição. A diferença é que o novo filme, por mais absurdo em sua premissa, amplifica a violência e o sangue: cada novo assassinato é mais brutal que o anterior.

Esse aumento de escala acompanha a nova trama, em que os sobreviventes do massacre no filme anterior deixam a pequena Woodsboro para recomeçar suas vidas em Nova York. Enquanto Tara (Jenna Ortega, agora com ares de grande estrela) tenta seguir a vida em uma festa sem fim, sua irmã mais velha, Sam (Melissa Barrera) busca enterrar o passado com terapia e uma dose nada saudável de paranoia.

O sentimento, por fim, é totalmente justificado quando um novo Ghostface, o assassino com a máscara de fantasma, mira nas irmãs com a promessa de uma nova carnificina. A turma da aventura anterior, Mason Gooding e Jasmin Savoy Brown, juntam-se a um elenco de novatos e de veteranos, como Hayden Panettiere, de volta depois de “Pânico 4”, e Courteney Cox, mais uma vez defendendo a repórter Gale Weathers.

A maior ausência aqui é Neve Campbell, que decidiu não reprisar o papel da final girl Sidney Prescott quando os produtores do novo filme não aceitaram sua proposta financeira. Para uma série que já rendeu mais de US$ 700 milhões, o não reconhecimento do valor de sua protagonista se apresenta como pura mesquinhez. Como é da natureza de histórias continuadas, porém, as portas seguem abertas para um retorno da atriz/personagem.

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Melissa Barrera e Jenny Ortega em ‘Pânico 6’

Imagem: Paramount

Ao chegar em seu sexto capítulo, “Pânico” honra suas medalhas de slasher movie, em um caminho irrefreável para alcançar séries veteranas como “Halloween” (treze filmes entre continuações e refilmagens), “Sexta-Feira 13” (doze filmes) e “A Hora do Pesadelo” (nove filmes). A diferença é que, ao contrário de forças sobrenaturais como Jason Voorhees, Freddy Krueger e, vá lá, Michael Myers, é difícil acreditar na ameaça imposta por Ghostface.

Isso porque, embaixo da máscara e da fantasia, Ghostface não passa de um sujeito comum, sem força sobre humana ou poderes macabros. Essa vulnerabilidade faz com que sua aparente invencibilidade seja difícil de engolir. Se esse calcanhar de Aquiles por um lado dificulta a suspensão da descrença, por outro aumenta o mistério sobre sua identidade e motivações.

Ghostface não é, afinal, um único sujeito, um matador solitário. Desde o primeiro “Pânico”, a fantasia foi usada por uma dezena de pessoas comuns para cometer uma série de crimes violentos, do adolescente Billy Loomis (Skeet Ulrich em “Pânico”) ao diretor de cinema Roman Bridger (Scott Foley em “Pânico 3”), passando pela prima pirada de Sidney, Jill (Emma Roberts), em “Pânico 4”. Por ser intercambiável, Ghostface é também imprevisível.

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O metrô de Nova York às vezes é mesmo de matar…

Imagem: Paramount

“Pânico 6” busca sua personalidade ao apostar em Sam e Tara, protagonistas interessantíssimas que parecem compartilhar o mesmo impulso perturbado de seu algoz. Por outro lado, o gênero ainda não encontrou seu pé no novo milênio, ainda marcado pelo torture porn de “Jogos Mortais” e por novatos espalhafatosos como o palhaço Art de “Terrifier 2”.

Não que exista aqui qualquer desejo de reinventar a roda. Desde que assumiram a série após a morte de Wes Craven em 2015, Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett fazem um trabalho decente ao criar momentos de tensão genuína e ampliar a violência e a brutalidade sem perder o foco do tema principal: este é um filme de terror consciente de ser um filme de terror.

Talvez este seja o grande truque iniciado por Craven em 1996 e perpetuado por seus herdeiros: “Pânico” não é de fato uma série de terror, e sim uma trama de mistério que se alimenta das convenções do gênero. Seu impacto e intensidade dependem de nossa própria bagagem, uma montanha-russa que dispara a adrenalina e faz a gente gritar, mesmo sendo 100 por cento segura. Segurança que, tenho certeza, pode ser contestada por alguma regra cinematográfica.



Fonte: UOL Cinema

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