Taylor Schilling se tornou conhecida mundialmente ao viver Piper Chapman em Orange Is the New Black (2013-2019), série que dividiu o público e a crítica em seu gênero: afinal, era uma comédia ou um drama? Agora, ela volta ao streaming com Querido Edward, produção do Apple TV+ que não deixa a menor dúvida: é um drama pesado, com a atriz na pele de uma personagem sofrida que perde a irmã e um sobrinho de uma vez em uma tragédia aérea e que vê seu sonho de ser mãe destruído por sucessivos abortos.
Lacey, a personagem de Taylor, já investiu muito dinheiro em tratamentos para fertilidade, mas nenhuma gestação chegou até o final. Os abortos prejudicaram sua relação com o marido, John (Carter Hudson), e com outros familiares. Mas, logo no primeiro episódio, um acidente de avião mata sua irmã mais velha, Jane (Robin Tunney), o cunhado, Bruce (Bryan D’Arcy James), e o sobrinho Jordan (Maxwell Jenkins).
A tragédia tem um único sobrevivente: seu sobrinho caçula, Edward (Colin O’Brien), de apenas 12 anos. E, em meio ao susto e ao luto inimaginável, Lacey se vê com a missão de criar o sobrinho. Assim, o acidente que lhe rouba sua irmã mais velha, ao mesmo tempo entrega a ela, meio que por linhas tortas, o filho que sempre quis. Mas a realização da maternidade tão desejada é acompanhada por uma série de problemas.
Em entrevista exclusiva à Tangerina, Taylor Schilling afirma que as nuances e contradições de Lacey com relação à maternidade foram um dos chamarizes que a levaram a atuar em Querido Edward. “São tantas mulheres que sofrem abortos, e há tantos caminhos diferentes para a maternidade. E a maioria das mulheres que eu conheço, até aquelas que decidiram que não vão ser mães, precisam dedicar um pouco de seu tempo ao conceito de maternidade. Você precisa engajar com essa ideia, conversar com ela de alguma maneira”, filosofa a atriz de 38 anos, que não tem filhos na vida real.
“Lacey quer um filho com tanta voracidade e amarrou tanto de sua própria identidade a esse desejo. Então eu comecei a pensar: ‘Quem somos nós quando a coisa que queremos tanto, que define nossa identidade, nos é tirada?’. Não precisa ser necessariamente a maternidade, pode ser qualquer coisa. Porque tudo isso é uma construção social. Então eu achei que seria um mergulho interessante”, continua Taylor.
“A personagem se colocou em uma situação da qual ela só poderia sair com o coração partido, e ela precisa navegar por isso. Ela teve que abrir mão de um sonho e viver realmente com um coração partido. E depois de se magoar [por não conseguir ser mãe], ela ainda tem mais uma tragédia em sua vida [com o acidente de avião]. Mas ela aprende a viver com isso. Lacey aprende a encontrar a alegria, o que eu acho uma coisa tão rara. Eu não sei o quanto isso acontece na vida real, de nós conseguirmos abrir mão das nossas expectativas e ser simplesmente felizes.”
Outro ponto interessante de Querido Edward é que a série não aborda apenas a história de Lacey e seu sobrinho. Outros familiares de vítimas do acidente também têm suas vidas mostradas na atração –e eles se encontram em um grupo de apoio a pessoas em luto que ajuda a trama a criar dinâmicas entre personagens que normalmente não se cruzariam, da dondoca sem noção (Connie Britton) à jovem idealista que deseja transformar o mundo em um lugar melhor (Anna Uzele), passando pelo imigrante africano que nunca quis o sonho americano para si (Idris Debrand).
O grupo de apoio também saltou aos olhos de Taylor Schilling. “Eu estava muito interessada nesse aspecto de cura através da comunidade, de como precisamos nos conectar uns com os outros. Fui atraída pela ideia de um grupo de enlutados, que se unem para se curarem, e pelo que acontece com a vida depois de uma transformação tão grande. Um eixo de sua existência é alterado e nada mais segue o plano original, mas se você se rende ao que houve, poderá enxergar a graça e a beleza, ver a vida se desenrolando da maneira dela. E, em vez de tentar assumir o comando desse navio, você apenas se deixa levar pelas ondas.”
“Acho que Querido Edward é uma série que mostra a importância de celebrar a vida depois de uma perda, encontrar a beleza nas mudanças. É doloroso, claro, mas depois surgem novas oportunidades, novos propósitos, novos relacionamentos e até um novo senso de quem você é. Isso é algo muito bonito de acompanhar”, finaliza a atriz, indicada ao Emmy e a dois Globos de Ouro (um de comédia e um de drama) por seu trabalho em Orange Is the New Black.
Os três primeiros episódios de Querido Edward já estão disponíveis no Apple TV+. Novos capítulos serão adicionados todas as sextas-feiras ao catálogo do streaming.
Fonte: UOL Cinema