Jesse Eisenberg e Claire Danes exploram crise de ex-casal em série: ‘Questão de ponto de vista’

São Paulo

Jesse Eisenberg, 39, aparece em uma sequência de cenas de sexo no primeiro episódio de “A Nova Vida de Toby”, que chega ao Brasil nesta Quarta-Feira de Cinzas (22) pelo Star+. Após se divorciar, seu personagem, Toby Fleishman, resolve explorar os aplicativos de relacionamento e descobre que ser um médico tem lá seu apelo nesse tipo de empreitada. “Não é um tipo de cena que eu estou sempre inclinado a procurar fazer, mas acho que é recíproco”, brinca o ator em resposta ao F5, durante bate-papo com a imprensa.

Para ele, o jargão médico utilizado pelo personagem, um hepatologista dedicado, também não foi tão complicado quando comparado ao desgaste emocional que o divórcio do personagem lhe proporcionou. “Em retrospecto, acho que a parte complicada deixou todo o resto fácil”, diz. “Ainda lembro de alguns dos diálogos incríveis, eram frases pouco usuais e difíceis de decorar, e nenhuma por causa dos termos médicos.”

Boa parte da história é contada em flashbacks. É por meio deles (e também dos comentários pouco elogiosos do personagem-título) que conhecemos Rachel, sua ex-mulher, interpretada por Claire Danes, 43. A agente de talentos, a princípio, parece fria e pouco cuidadosa com os dois filhos do casal, que um belo dia ela deixa com Toby antes do combinado —ela jamais volta para pegá-los.

“Acho interessante como nossos personagens são vistos pela perspectiva um do outro”, comenta Eisenberg. “Quando a Rachel é vista pelo meu ponto de vista, ela parece ambiciosa, vingativa e negligente, mas, quando a perspectiva muda e o Toby é visto do ponto de vista dela, você tem sentimentos parecidos com relação a ele. Como atores, tivemos que modular o quão vilanescos ou heroicos teríamos que parecer, o que foi um desafio.”

Claire Danes chama a atenção para o fato de a perspectiva masculina ser a primeira a ser mostrada. “Somos forçados a confrontar o fato de que imediatamente temos empatia com o homem da história, especialmente nesse contexto específico que é o ambiente familiar”, aponta. “Nós fazemos isso naturalmente porque fomos condicionados a condenar a mulher e a perdoar o homem.”

Só mais para o final da minissérie é que o público entende o que, de fato, aconteceu com Rachel. “É quando percebemos como a nossa compreensão da história está distorcida, porque só ouvimos um lado dela”, avalia a atriz. “Acho que a trama tem ideias feministas bem interessantes.”

Entre as coisas que Danes precisou pesquisar para o papel estão a depressão pós-parto. “Tenho dois filhos e alguma experiência com a variação hormonal, que é realmente feroz, mas tive a sorte de não cair nesse abismo”, comenta. “Tenho uma empatia profunda por quem passa por isso, e acho que é algo que ainda tem pouca representação na cultura pop.”

Porém, ela lembra que as decisões da personagem não têm a ver apenas com essa condição. “Tem um tipo de trauma diferente que é imposto a ela, que é horrendo e que tive a chance de representar”, antecipa. “Não diria que foi fácil, mas valeu a pena passar por isso para que possamos falar sobre o assunto.”

Além do casamento fracassado, outros personagens rodeiam a trama, com destaque para os amigos que Toby conhece desde que fizeram juntos uma espécie de intercâmbio em Israel. A jornalista Libby, vivida por Lizzy Caplan, 40, está sempre a postos para ouvir as reclamações dele, mesmo que tanta disponibilidade abale o próprio casamento. A personagem, aliás, é quem narra a história.

“Enquanto estávamos filmando a série, eu gravava os áudios no meu apartamento para que fossem usados no set”, revela. “Só depois é que gravamos valendo, em um estúdio. Fiquei até triste quando terminamos por saber que não ia mais dizer aquelas palavras. Já estou pensando em propor um audiolivro (risos).”

Para a atriz, o relacionamento de Libby com o marido (vivido por Josh Radnor) não poderia estar mais distante de sua realidade. “Eu jamais me casaria com alguém que tentasse me afastar dos meus amigos”, afirma. “Tenho muitos amigos do sexo masculino e, com alguns, foi mais complicado porque ninguém quer que o namorado tenha uma melhor amiga mulher.”

A personagem, segundo ela, é incapaz de “colocar uma máscara e ser inautêntica”. “É por isso que a vida no subúrbio é tão brutal para ela, que não consegue jogar aquele jogo”, avalia. E, nessa busca constante por novas emoções, ela pode acabar ferindo a quem esteve a seu lado nos últimos anos.

“É muito fácil apontar o dedo para alguém próximo —no caso da Libby, para o marido— quando a sua vida não saiu do jeito que você esperava”, comenta Caplan. “É fácil culpá-lo, como se o fato de o resto da sua vida não ter funcionado fosse uma comorbidade. A dura verdade, e que é o tema de tudo isto, é que mesmo que você se divorcie, você não vai mais ter 22 anos, você não vai voltar ao ponto inicial para começar do zero. É preciso encarar tudo isso, que é o que representa estar na casa dos 40.”

O outro amigo do grupo é o desencanado Seth, o único que continua solteiro. Aparentemente, o personagem interpretado por Adam Brody, 43, leva a vida que todos os demais queriam ter: tem um bom emprego (no mercado financeiro), liberdade para fazer o que quiser, quando quiser, e está sempre aproveitando as melhores noitadas de Nova York.

“Provavelmente, de todo o elenco, fui quem teve o trabalho mais fácil do ponto de vista emocional”, admite. “Dito isso, é muito mais fácil atuar quando é algo bem escrito, porque já está tudo no roteiro para você. Para mim, foi até menos desafiador do que estou acostumado.”

Isso não significa que o personagem não tenha suas contradições, como vamos descobrindo ao longo de sua jornada. “Sinto que há definitivamente uma melancolia que perpassa toda a série, e sinto isso na vida também”, comenta o ator. “Quanto mais velho você vai ficando, a partir dos 40, mais perguntas você vai se fazendo a respeito de quem você é de verdade, de para onde você quer caminhar… Ainda nos vemos diante de encruzilhadas e temos coisas a descobrir. Isso não é só com quem está na casa dos 20!”

As discussões sobre essa entrada na meia-idade foram trazidas à tona pela escritora Taffy Brodesser-Akner, que foi responsável por adaptar o próprio livro (“Fleischman Is in Trouble”, sucesso de crítica em 2019) para as telinhas. A autora diz que ficou apreensiva por nunca ter feito um roteiro até então.

“Não queria ser um fardo para os meus parceiros, para os atores ou para a equipe por causa da minha falta de experiência ou por não saber o que estava fazendo”, conta. “Foi difícil pular de paraquedas nessa indústria, mas todos foram gentis e pacientes, me ensinaram a parte técnica e o que cada um fazia, mesmo que eu não soubesse os termos corretos para chamar cada coisa.”

Sobre o elenco estrelado que conseguiu reunir para a sua estreia no audiovisual, ela diz que teve sorte. “Essas eram as únicas pessoas que eu via fazendo esses papéis”, afirma. “São personagens muito específicos, então temo que eu possa ter parecido teimosa ou sem criatividade, mas, vendo tudo pronto, acho que foram ótimas escolhas. Talvez eu devesse trabalhar com escalação de elenco!”, brinca.

Fonte: Folha de SP

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