Raphael Logam conta que ‘apanhou muito’ para interpretar o lutador de jiu-jítsu Fernando Tererê

São Paulo

A cara do Brasil pode ser vista em Fernando Tererê e em sua trajetória de vida. Nascido e criado no morro do Cantagalo, em Ipanema, zona sul do Rio de Janeiro, o lutador focou no esporte como uma maneira de distração da violenta realidade em que vivia.

De luta em luta, Tererê se aperfeiçoou no gênero e, ao longo da carreira, venceu grandes competições, como o campeonato mundial de jiu-jítsu em sua categoria de peso em todas as faixas. Foi também duas vezes vencedor do mundial na categoria faixa preta. Sua história de carreira e a volta por cima é contada no filme “O Faixa Preta: A Verdadeira História de Fernando Tererê”, da HBO, que estreou na sexta-feira (17), e aborda a realidade periférica em que Fernando cresceu, quando começou sem condições para praticar um esporte até o envolvimento com a drogas —que o afastou temporariamente do quimono.

Depois de vencer campeonatos nacionais e internacionais e se tornar um nome importante da “arte suave” no país, Tererê não resistiu à tentação das drogas, sempre rondando, sempre por perto. Ele já disse que usou de tudo, “de crack a cocaína”. De 2004 a 2012, foram diversas as tentativas de reabilitação.

“Não botava quimono, não fazia esporte nenhum, era só cracolândia, baile funk, droga na rua, na praia, em casa…perdi o rumo. Sabe o que é uma pessoa sem rumo? Onde eu via uma fumaça, queria estar”, declarou. Nas telas, quem interpreta o lutador é Raphael Logam, indicado duas vezes ao Emmy Internacional na categoria Melhor Ator pelo papel na série “Impuros” (Fox). O ator diz que as lutas foram a parte fácil do trabalho. O difícil mesmo foi contar a história “de uma das maiores lendas do jiu-jítsu”.

Logam conta que, inicialmente, seu papel era interpretar Alan Finfou, uma das crias de Tererê no Cantagalo. Mas, a três dias do início das gravações, ele assumiu o papel principal. “Eu me preparei primeiro para fazer o Alan. Mas faltando três dias, o ator que ia fazer o Tererê saiu e eu assumi essa bronca, né? “, diz, em entrevista ao F5. Ele não cita nominalmente quem seria, mas a imprensa noticiou fartamente que Jonathan Azevedo seria o protagonista.

Para viver os lutadores na tela, o elenco, também composto pelo ator Jefferson Brasil, Luiz Otávio, Isabel Fillardis e Duda Nagle, contou com a ajuda e treinamento do próprio Tererê e dos lutadores profissionais Renan Problema, Felipe Cabocão e Eduardo Teles.

O ator pegou tanto gosto pela coisa que continuou a se dedicar ao esporte mesmo após o fim das filmagens, e hoje é faixa azul (no início das filmagens, todos eram faixa branca, “o que mais apanha”).

Caco Souza, diretor do filme, diz que as mudanças de ator próximo do início das filmagens “são coisas que tem acontecem” e não dá maiores detalhes sobre a substituição. “Acho que desde o começo dessa história o Fernando Tererê era o Rafael”, declara, diplomaticamente. Ele diz que estava trabalhando em outro projeto quando o roteirista Rangel Neto ligou para ele contando a história e o convidando para o trabalho. “Foi paixão à primeira vista”.

As filmagens passam o realismo que o diretor tanto queria porque praticamente não há cenografia ali: é tudo à vera. A maioria das cenas foi gravada onde se passa a história real, a vida de Tererê. “O quarto do Fernando é o quarto de verdade dele, a academia é onde ele treinou”, diz Souza.

Uma unanimidade para quem participou das filmagens é quando perguntados sobre a cena mais emocionante do longa. É consenso entre elenco e equipe técnica: haaaaja coração para não se comover positivamente com a sequência da volta de Tererê ao tatame, depois de passar por uma fase junkie, cheirando pó e usando o que mais viesse pela frente.

“É uma verdadeira virada para ele, quando ele realmente aceita e volta a treinar depois de todo mundo tentar ajudá-lo nessa fase difícil das drogas. Estou falando e estou me arrepiando”, finaliza Caco, que fala quase ao mesmo tempo que Raphael. Os dois pensam igual.

E Tererê? Bem, ele voltou com força para o jiu-jítsu, priorizou a disputa de campeonatos e passou a investir na carreira e na formação de novos talentos no morro onde foi criado. Um final feliz.

Fonte: Folha de SP

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