Após década ‘perdida’, sitcoms preparam retomada na TV dos EUA

Formato clássico das séries norte-americanas, as sitcoms podem estar recuperando o espaço na TV dos Estados Unidos após uma década inteira sem destaque. Os bons números de atrações novatas e a aposta das principais redes em novas produções indicam uma retomada que parecia improvável.

Nos últimos anos, as séries de formato single-cams, ou seja, gravadas apenas com uma câmera principal, têm dominado o gênero de comédia nos EUA. Produções como Veep (2012-2019), Unbreakable Kimmy Schmidt (2015-2019), Ted Lasso e Hacks protagonizaram as grandes premiações da indústria e superaram o formato eternizado em títulos como Friends (1994-2004), How I Met Your Mother (2005-2014) e Um Maluco no Pedaço (1990-1996).

A falta de representantes no Emmy também indica a queda da popularidade no formato. A última vez que uma sitcom tradicional disputou o principal prêmio da TV norte-americana foi em 2014, com The Big Bang Theory (2007-2019). Considerando que a principal atração deste formato nas últimas décadas seguiu em exibição por mais cinco temporadas, a decadência era cada vez mais palpável.

Em 2023, no entanto, recentes números conquistados por sitcoms, gravadas com múltiplas câmeras ao mesmo tempo, mostram que a audiência do principal mercado audiovisual do mundo pode estar recuperando o interesse no formato. O maior exemplo disso é a novata Night Court, em exibição há pouco mais de um mês nos EUA.

Reboot da série hit dos anos 1980 de mesmo nome, Night Court conquistou a sua melhor audiência com uma comédia novata nos últimos cinco anos. Segundos dados da Nielsen (o Ibope norte-americano), o primeiro episódio da atração foi a produção mais assistida entre o público de 18 a 49 anos, recorte mais importante da medição de audiência. No total, o piloto foi visto por 7,4 milhões de espectadores.

Com ótimo lançamento, Night Court teve a melhor estreia de uma sitcom em qualquer rede norte-americana desde The Conners, da ABC, em 2018. Foi o melhor desempenho de uma comédia da NBC desde 2017, que marcou a estreia do revival de Will & Grace (1998-2006; 2017-2020). O resultado foi a renovação antecipada da série para uma segunda temporada.

“Todo mundo tinha um palpite de que provavelmente deveriam fazer mais séries neste formato. Night Court é um bom sinal de que há apetite para isso. Tudo o que estou ouvindo da CBS, por exemplo, é que eles têm limites bastante difíceis que estão tentando atingir nessas séries com várias câmeras”, afirmou um importante produtor não identificado em entrevista ao site Deadline.

“The Conners é uma exceção porque tinha uma base para começar. Então essa é uma série cara para a ABC. Mas você pode começar fazendo uma de câmera múltiplas um pouco mais barata e manter o custo melhor. Todas as cinco redes, pelo menos no papel, estão interessadas ou têm algo em andamento”, acrescentou.

O retorno das apostas no formato também chegou ao streaming. Após algumas tentativas fracassadas, a Netflix viu a recém-lançada That ’90s Show conquistar bons números e confirmou a renovação do spin-off de That ’70s Show (1998-2006) para uma segunda temporada. The Upshaws, estrelada por Mike Epps, também irá retornar com uma nova leva de episódios. Já o Paramount+ estreará em breve o revival de Frasier (1993-2004), que trará de volta o icônico personagem vivido por Kelsey Grammer.

Topher Grace e Laura Prepon em That '90s Show

Topher Grace e Laura Prepon em That ’90s Show

Divulgação/Netflix

Confiança das emissoras

Os bons números de Night Court e o desenvolvimento de novas séries neste formato indicam que as principais redes de TV dos EUA retomaram a confiança na sitcom. Após a ótima estreia, a NBC confirmou oficialmente a renovação do reboot para uma segunda temporada quando apenas dois episódios haviam sido exibidos.

Antiga casa de fenômenos como Friends e Cheers (1982-1993), a NBC também tem novas apostas no forno para estrear nos próximos meses. Além da boa média de audiência da novata Lopez vs Lopez, há duas sitcoms engatilhadas para a próxima temporada: Amigos, série que contará a história de seis amigos latinos vivendo em Los Angeles, e uma série ainda sem título oficial que terá no elenco nomes como Jon Cryer (Two and a Half Men), Donald Faison (Scrubs) e Abigail Spencer (Zumbilândia).

Emissora líder de audiência nos EUA, a CBS conta com duas sitcoms que têm um público fiel em sua programação. A Boa Vizinhança acabou de ser renovada para a sexta temporada, enquanto Bob Hearts Abishola retornará para um quinto ano. Outras três atrações nesse formato estão em desenvolvimento: uma série ainda não intitulada que será estrelada pela dupla de pai e filho Damon Wayans e Damon Wayans Jr.; They’re With Me, sobre uma família fora do comum; e The Hilsons, sobre uma mãe que vai morar com seus dois filhos adultos.

No caso da ABC, a aposta será na novata Forgive and Forget. Estrelada por Ty Burell, o Phil Dunphy de Modern Family (2009-2020), a série contará a história de Ben Flemings, homem adulto que, quando seu pai festeiro é diagnosticado com Alzheimer, é forçado a acolher o único homem que ele trabalhou a vida inteira para não se tornar. A atração dividirá a responsabilidade de recuperar o prestígio do formato na rede ao lado de The Conners, que foi renovada oficialmente para a quinta temporada.

“Acho que tem havido um esnobismo sobre séries multicâmeras”, afirmou Gina Yashere, coshowrunner, cocriadora e atriz de Bob Hearts Abishola. “O mercado mudou para câmeras individuais e esses pareciam ser as séries que recebiam todos os elogios e prêmios. Acho que a nossa é tão bem escrita quanto qualquer outro programa de TV, se não melhor. Nós simplesmente não temos o mesmo nível de respeito.”

A volta das apostas em sitcoms, no entanto, não significa que as redes norte-americanas vão deixar de apostar em séries de uma câmera só ou no formato mocumentário. Títulos como Abbott Elementary e Ghosts, que estão entre as principais comédias da atualidade, apenas reforçam que a TV aberta dos EUA seguirá plural e com variações de produtos para resgatar um prestígio que parecia perdido com a popularização dos streamings.

Fonte: UOL Cinema

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